Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Nova série nacional da FOX, ‘Impuros’ resgata o narcotráfico na era Collor

Raphael Logam é Evandro, um sujeito bem intencionado que acaba engolido pelo narcotráfico em 'Impuros'
Chega à FOX nesta sexta-feira, 19, mais uma série original realizada no Brasil: “Impuros”, enredo que se passa no universo do narcotráfico nos anos 90, terá seus dez episódios disponíveis no aplicativo da FOX para assinantes dos pacotes FOX Premium e FOX+. Na TV, a partir da estreia, um novo episódio por semana irá ao ar todas as sextas às 22h00, no FOX Premium.
Após um passeio pelos dois primeiros episódios, resta a certeza, triste, de que pouca coisa ou nada avançou no combate ao narcotráfico que domina as comunidades cariocas, em  ao longo de 28 anos. Não fosse pelo figurino, decoração e carros da época, além da ausência de internet e telefonia celular, a produção poderia perfeitamente se passar nos dias atuais. É inevitável visitar esse universo e perceber o quão ineficiente tem sido toda a guerra travada naquele cenário.

Mas, atenção, um trunfo muito bom do roteiro nos leva a um momento dos anos 90 que não poderia ocorrer em outra época. A localização do enredo nos primeiros dias do governo de Fernando Collor, quando o plano econômico anunciado pela então ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, o famigerado Plano Collor, fez saber que todos os investimentos dos brasileiros guardados em bancos estavam congelados, sem possibilidade de saque, é essencial para os rumos que a história toma.

E mais não digo, para não tropeçar em spoiler, mas há ali naquele episódio uma ótima sacada para o roteiro.

Na época, voltando à vida real, muita gente ficou desesperada. Houve quem tenha se matado. Uma imagem emblemática daquela situação está na foto de um carro que invadiu a fachada de um banco, em meio a estilhaços de vidro da porta rompida. Pessoas que venderam uma casa num dia para comprar outra dali a curto prazo, por exemplo, deixando o dinheiro no banco, ficaram com apenas 50 Cruzados Novos (ou Cruzeiros, como a moeda voltou a se chamar). O episódio vale inclusive um flashback de imagens da época.
Criada pelo policial aposentado Alexandre Fraga e baseada em fatos reais, a série tem coprodução da produtora Barry Company (brasileira, apesar do nome gringo), com direção de Tomás Portella (“Operações Especiais”) e René Sampaio (“Faroeste Caboclo”). O roteiro é assinado por Gabriel Maria, Gabriela Giffoni, Gustavo Moura Bragança e Rafael Spínola,com texto final de Tomás Portella.
A trama é centrada em Evandro do Dendê (Raphael Logam), jovem da favela carioca que sonhava em ser empresário, mas acaba engolido pela trajetória do crime quando seu irmão traficante é morto por policiais. Seu antagonista é o policial Victor Morello (Rui Ricardo Diaz),  alcoólatra e de métodos pouco ortodoxos, como convém a um bom enredo.

Embalada pela trilha do “Rap da Felicidade”, “Impuros” pode parecer ter esse nome em função do pó que movimenta a vida desses personagens. Mas logo o espectador notará que a pureza se ausenta mesmo é na índole daquelas figuras. Entre policiais e bandidos, será um estímulo ao telespectador descobrir que não há uma divisória clara entre mocinhos ou bandidos.A dualidade, um bem precioso (ou nem sempre) do ser humano, felizmente se faz presente nessa indústria de entretenimento feita para gente grande, onde a produção de séries para a TV é majoritária e encontra um público com maturidade intelectual e disposição para refletir. A proposta, amém, vai na contramão do maniqueísmo que tem acometido as novelas, gênero ainda predominante para as massas, infelizmente vitimado por um processo de criação em marcha à ré, talvez para acompanhar os ânimos da vida real do próprio país.

“Esse projeto é especial porque mostra os dois lados dos dois lados: uma visão de guerra sem heróis ou vilões, onde todos são heróis e vilões dentro de suas realidades”, diz o diretor Tomás Portella.
A julgar pelos dois primeiros episódios a que tive acesso, os conflitos vão se desenhando de modo bastante habilidoso.
O acabamento na tela é digno da prateleira que hoje põe a FOX Networks Group Brasil entre as melhores grifes na produção de séries nacionais, ao lado de Globo e HBO. Não custa lembrar que a programadora acaba de emplacar uma indicação ao Emmy Internacional, com “Um Contra Todos”, série que já está em sua terceira temporada, com a quarta aprovada. Seu protagonista, Júlio Andrade, é também um dos finalistas na categoria de melhor ator, de novo por “Um Contra Todos”.
A FOX tem também no porfólio “#MeChamaDeBruna, baseada na trajetória de Bruna Surfistinha, título bem exportado e alvo de boa audiência por onde passa, com três temporadas até aqui.
Para Zico Goes, Vice-Presidente de Produções Originais da FOX Networks Group Brasil, o tráfico de drogas é só um pretexto para uma série que, na verdade, versa sobre o amor. “É uma história sobre relações humanas e o equilíbrio entre poderes e emoções que vão muito além do bem e do mal”, diz.

Cyria Coentro, mãe que perde o filho caçula para o tráfico logo no início

O elenco traz ainda Cyria Coentro, sempre comovente em cena, André Gonçalves, como um dos chefes do tráfico, e Fernanda Machado, que já frequentou esse ambiente em “Tropa de Elite”, agora como policial. A lista do cast se estende a Antônio Carlos Santana, João Vitor, Cadu Favero, Peter Brandão, Sérgio Malheiros, Leandro Firmino, Lorena Comparato, Gillray Coutinho, Vinícius Patrício, Karize Brum, o uruguaio César Troncoso, que esteve no belo filme “Infância Clandestina”, e os argentinos Jean Pierre Noher, Germán Palacios e Julieta Zylberberg, que o público reconhecerá do filme argentino “Relatos Selvagens”.

“Impuros” foi filmada ao longo de dois meses, em locações que incluíram Brasil e Uruguai.

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Cristina Padiglione

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