Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Nova temporada de ‘2ª Chamada’ é um ato de resistência pela educação

A professora Lúcia (Débora Bloch) leva moradores em situação de rua para a escola. Foto: Mauricio Fidalgo/ Divulgação

O GloboPlay lançou nesta sexta-feira (10) uma nova temporada de “Segunda Chamada”, série sobre educação que se concentra em uma unidade da EJA –Escola para Jovens e Adultos. São seis novos episódios primorosos, de novo filmados só em locações em São Paulo, dessa vez abraçando o universo dos moradores em situação de rua, e a invisibilidade deles aos olhos de quem tropeça em pessoas nessas condições.

O Alzheimer, mal colocado em cena pela sempre brilhante atuação de Moacyr Franco, também é abordado nesta nova etapa, em tom de alta comoção e sensibilidade.

Moacyr Franco: atuação comovente, com leveza. Foto: Fábio Rocha/Divulgação

Não há assunto, não há drama, não há questão que não possa ser abordada em uma escola que recebe pessoas que não conseguiram estudar quando mais jovens. Tudo passa pelas salas de aula dos professores interpretados por Débora Bloch, Hermila Guedes, Thalita Carauta e Silvio Guindane, na escola dirigida por Jaci, papel de Paulo Gorgulho. O texto é de Carla Faour e Julia Spadaccini, com direção-artística de Joana Jabace.

Repare que a criação é toda feminina, assim como o protagonismo, função que cabe à professora Lúcia (Débora). Em entrevista virtual, o time explica que trabalha diretamente com o melodrama para atrair o telespectador a testemunhar tudo aquilo de que ele desvia os olhos na vida real. A emoção retém a plateia e faz com que a gente queira consumir episódio atrás de episódio, sem economizar no engasgo das lágrimas e na suspensão da respiração.

É aí que mora alguma esperança por um final, se não feliz, um pouco menos triste. É aí que você se pega surpreendentemente vendo aquilo que evita no seu dia a dia, na torcida de encontrar, na ficção, um cenário de dias melhores que mal nos mobiliza longe da tela.

Com novos alunos, a temporada traz também outros atores, com Angelo Antônio à frente dos moradores em situação de rua, e um indígena, presença oportuna para derrubar preconceitos estruturais.

Falar de educação é muito bonito, e ninguém há de discordar que nada é mais potente para transformar o mundo e a vida das pessoas do que o ensino. Mas o discurso, como se sabe, não orna com a prática. Educação rende menos votos aos postulantes a cargos públicos do que segurança pública e urbanismo, por exemplo.

Investir em educação é algo que só mostra efeito a longo prazo, diferentemente de pontes, túneis e pirotecnia policial. Enquanto opera essas profundas transformações que aparecem mais em tese do que na vida real, a educação age quase silenciosamente no imaginário coletivo.

Daí por que educação aparece tão pouco na fita dos blockbusters e grandes séries. Discreto na sua forma de exibição, o ensino é também um desafio muito maior à indústria do audiovisual. Isso, por si só, já é motivo para desanimar os produtores de filmes e séries a mergulhar no universo do aprendizado.

A missão se torna ainda mais árdua quando a cena abraça tantos dramas sociais, como aqueles que inevitavelmente esbarram em uma escola pública para jovens e adultos. Até situações flagrantes de censura, autoritarismo e homofobia atravessam o roteiro, de modo orgânico, e por isso afiado, com direito a uma interpretação coletiva de “Apesar de Você”, de Chico Buarque.

Mais atual, impossível.

 

Cotação: Excelente

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Cristina Padiglione

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