Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

“O Lula me decepcionou”: Jô Soares a Fábio Porchat

Entrevista vai ao ar nesta quarta e quinta. Foto de Edu Moraes/Record

Jô Soares esteve nesta segunda-feira pela primeira vez no “Programa do Porchat”, na Record, em edição que vai ao.ar nesta quarta.

Entre tantos assuntos conversados entre os dois, Jô contou que não sente falta de seu expediente na TV, anunciou sua nova peça (onde estará como diretor e ator) e respondeu a perguntas sobre humor, ditadura e política.

Quando Porchat mencionou as críticas recebidas por sua última entrevista com Dilma, ainda presidente, Jô lembrou que picharam, na rua defronte à sua casa, a frase “Morra, Jô Soares”. Explicou que fez as perguntas que todo mundo gostaria de fazer, mas não debateu com ela. E contou a Porchat que no passado, já teve muita intimidade com a cúpula do PT. “O Lula me decepcionou muito”.

Jô lembrou que Lula lhe telefonou após a última entrevista antes de se tornar presidente. “Ele disse que aquela era a 13a entrevista que eu fazia com ele e o numero do PT era 13. Então, isso daria sorte a ele.”

“De todos os candidatos à presidência que eu entrevistei naquela eleição, o Lula foi o que melhor falou sobre cultura. Aí, eleito, a primeira manifestação cultural a que foi, ele dormiu. Depois disse que ler era como fazer esteira: chato, mas necessário. Agora, ninguém convida alguém pra entrevistar 13 vezes se não espera nada dele.”

Há mais de 30 anos sem contracemar com outros atores no teatro, Jô quebra esse jejum com “A noite de 16 de janeiro”, peça que leva 12 pessoas da plateia, escolhidas na hora, a definir o veredito sobre um julgamento de um caso que pode ter sido alvo de homicídio ou suicídio.

A estreia da peça, cujo nome crava justamente a data de nascimento de Jô, está marcada para 5 de maio, no Tuca, em São Paulo, e Jô disse que Porchat “está intimado a fazer parte do julgamento na estreia.”

Jô anunciou ainda que o segundo volume de sua autobiografia, “O Livro de Jô”, sai em novembro.

Recordou como foi sua ida para o SBT, das tratativas divertidas com Silvio Santos e da mágoa demonstrada por Chico Anysio quando ele soube que Jô estava sendo contratado pela concorrência. “Nós éramos muito amigos, mas quando eu fui pro SBT, ele ficou mordido. Mas eu conhecia o Chico. Ele disse que jamais iria ao meu programa. Eu falei: ‘isso é na primeira e na segunda semana, depois ele vem. Dito e feito. Era uma relação de amor e de ciúmes. Tanto que o menino (Bruno Mazzeo) me adora”.

Questionado por Porchat sobre as agruras vividas nos idos da ditadura, Jô contou detalhes de situações de censura e da perseguição aos amigos. “Tem quem ache que só gente que fazia coisa errada era perseguida pela ditadura”, disse-lhe Porchat. Ao que Jô negou, balançando a cabeça, enquanto bebia um gole d’água da caneca com a logomarca do programa e emendando: “então eu sou um filho da puta”, completou, arrancando risos da plateia.

Jô não deixou de se emocionar ao lembrar que começou sua carreira na Record. Sou muito agradecido à Record, independente de o dono ser o bispo e de antes ser outro, porque isso pra mim é uma marca indelével. “Porque isso aqui é a Record e eu comecei graças à Record”.

Porchat também se emocionou na abertura do programa, lembrando que sua vida, e não apenas sua carreira, começou em uma edição do “Programa do Jô”, quando ele tinha 18 anos. Na ocasião, Porchat escreveu um bilhete, pedindo uma oportunidade para mostrar um esquete no palco, e conseguiu levá-lo até o apresentador num intervalo. Jô leu e lhe abriu espaço.

Foto de Edu Moraes/Record

É com você, Bial?

E determinado momento, Jô comentou com Porchat que ter o entrevistado do lado direito do entrevistador é um sinal de respeito, e por isso ele estava de parabéns.

Talvez nem Jô tenha se dado conta, mas a observação soou como uma cutucada no “Conversa com Bial”, que o substituiu na Globo, único talk show que inverte essa ordem de lugares, mantendo o entrevistado à esquerda do apresentador. Quando anunciou seu programa pela primeira vez, há um ano, em entrevista a jornalistas, Bial explicou que essa opção se deu em função de o seu ouvido esquerdo funcionar muito mal, o que é fruto de uma bomba que explodiu ao seu lado nos idos em que foi correspondente de guerra.

De todo modo, Jô fez questão de ressaltar essa disposição no “Programa do Porchat”, como era no seu talk show.

 

Leia também: Com quase duas horas, entrevista de Jô a Porchat será exibida em duas partes

 

 

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