Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Obama evita dizer que se decepcionou com Lula e espera ver Brasil de volta à liderança climática

Foi uma conversa reveladora, a entrevista do ex-presidente Barack Obama a Pedro Bial e à editora executiva do jornal O Globo, Flávia Barbosa, que cobriu o segundo governo de Obama em Washington.

Bial quis saber se ele ainda acha hoje que Lula “é o cara”, como disse em 2009, em uma reunião do G20, ao encontrar com o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, o apresentador leu um trecho do livro que motivou a entrevista,  “A Terra Prometida”, lançado no Brasil pela Cia. das Letras, sobre suas memórias à frente da Casa Branca.

Obama reconhece na obra os méritos de Lula em ter tirado milhões de brasileiros da miséria, melhorando os níveis de educação do povo, mas diz que ele supostamente esteve envolvido em política de valores mafiosos.

“Você ainda acha que Lula é ‘o cara'”, quer saber Bial. Obama não responde. Dá uma volta para dizer que é preciso observar os líderes mundiais a partir do contexto da história de cada um, citando Angela Merkel e Vladmir Putin.

“Uma das coisas que eu tento fazer no livro é descrever as complexidades dessas figuras”, responde Obama.

Questionado por Flávia como as acusações de Donald Trump sobre eleições fraudadas devem afetar a democracia dos Estados Unidos e como Joe Biden deveria reagir aos seus eleitores, Obama reafirmou sua crença no sistema americano e disse que o resultado das eleições foi muito claro.

Elogiou George W.Busch, seu antecessor, que, apesar das diferenças, colocou sua equipe à disposição do processo de transferência de um governo para o outro, facilitando as coisas para a sua equipe.

Relembrou sua visita à favela Cidade de Deus, no Rio, e ao Cristo Redentor, onde foi aconselhado por uma das filhas a rezar, em meio à neblina daquela colina, à noite, aos pés do grande monumento.

E garantiu a Flávia que Michelle Obama não só não tem a pretensão de se candidatar a cargos eletivos, como fez lavagem cerebral nas filhas do casal para que não se envolvam em política.

Mas o ponto mais relevante da conversa para episódios futuros nas relações entre Estados Unidos e Brasil veio quando Bial lembrou a Obama que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, propôs reagir com “pólvora” à ameaça de Biden sobre suspender contratos comerciais  com o país, caso o Brasil não volte a apresentar garantias de cuidados básicos com o clima.

Obama começou com a ressalva de que não conhece Bolsonaro, mas “com base no que vi”, disse, “as políticas dele, assim como as de Donald Trump, parecem ter minimizado a ciência da mudança climática.” “E o Brasil é obviamente um ator central  na ação de poder ou não frear os aumentos de temperatura, que podem causar uma catástrofe global. Eu tive a sorte, com o presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff,  de ter os dois cooperando com a gente nisso. Acho que o Brasil no passado foi líder em relação a isso. Seria uma pena se deixasse de ser um líder.”

Obama seguiu dizendo que o mesmo paralelo se aplicava sobre a Covid-19, lembrando que, assim como Trump, Bolsonaro descredenciou a ciência em suas estratégias para o combate à pandemia no Brasil.

O ex-presidente discorre ainda sobre racismo, lá e cá, e sobre a força das mulheres, sua eterna fonte de inspiração e referêmncia.

Vale a pena ser visto. A entrevista, exibida em plena magrugada, uma pena, está disponível no GloboPlay.

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Cristina Padiglione

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