Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Opção por Joel Datena aos domingos torna a Band ainda mais refém do elenco

Monarquia: Joel herda mais um território do pai, José Luiz Datena, na Band / Crédito: Reprodução de tela

A partir de amanhã, Joel Datena só terá folga aos sábados. O filho de José Luiz Datena, que agora é candidato oficial ao Senado, pelo DEM-SP, ficará no ar de segunda  a sexta no “Brasil Urgente”, e domingo comandará o “Agora é Domingo” (uma substituição ao “Agora é Com Datena”, criado para o seu pai, que permaneceu à frente do programa por pouco mais de dois meses).

Mas Joel ficará no ar das 18h às 20h, e não mais as seis horas inicialmente destinadas ao seu pai no domingo. Antes dele, virá Netinho de Paula, de volta à TV, para comandar o “Brasil da Gente”, entre 15h e 18h.

A ideia de deixar Datena pai no ar por seis horas aos domingos já era uma evidência da falta de conteúdo para a programação. Sem os jogos de futebol que fizeram história nas suas tardes de domingo, a emissora optou por seguir o caminho da concorrência e criou seu auditório dominical. Mas o cobertor era curto e a única opção parecia ser apostar no talento de comunicador de Datena.

Logo se viu que não há locutor, palhaço, pastor ou político capaz de preencher seis horas de encenação sem uma mínima organização de script, com convidados e repertório. Faltou cimento para a extensão da obra pretendida. Programa de auditório não é noticiário policial, que vai colecionando desgraças ao longo do território brasileiro para sapecar no telespectador o medo de sair de casa mesmo para ir até a esquina. Nem para rodar uma imagem em eterno looping (com a paradoxal legenda do “ao vivo”) quando faltam crimes para preencher o tempo no ar.

Ainda em março, quando a Band reuniu o mercado publicitário para anunciar sua grade de 2018, Datena pai se prolongou em um discurso de satisfação pelo novo posto, o que finalmente o tiraria do noticiário policial de que ele tanto se queixava. Só faltou chorar. Joel, o filho, fora escalado para substitui-lo no “Brasil Urgente”. Agora, refém de um elenco cada vez mais enxuto, a Band parece não ousar arrancar de uma vez o DNA dos Datena da recém reformulada grade de domingo, e, de novo, mantém parte daquele território para o herdeiro.

Datena sai da casa em momento bastante delicado. Nem o programa dele nem os outros investimentos da Band na grade deste ano surtiram resultados, até agora. Cátia Fonseca, tirada da Gazeta, não trouxe o efeito esperado. O programa de Milton Neves tampouco fez diferença na média de audiência. Por pior que estivesse o ibope do “Pânico”, o saldo do horário deixado pelo humorístico não se repôs. O “Superpoderosas”, de manhã, não vingou, e tal seria se vingasse – a estrutura dada ao programa é pífia, beirando o mambembe. Algumas iniciativas na web são mais bem construídas que aquela disposição de cenário, externas e links do tipo Skype, um desastre para a tela da TV.

Somado a isso, a Band continua freneticamente produzindo o que mais tem dado resultado nos últimos anos: “Masterchef”. O reality é um sucesso, o trio de jurados é um achado, mas não falta quem observe que a fórmula tem sido deliberadamente desgastada, ao se emendar uma temporada na outra. Pensando com a cabeça dos administradores da Band, o que importa? É o que temos para o momento e ponto.

Em contrapartida, deixaram de investir em outras propostas bacanas, em escolhas que agora parecem equivocadas. O “Pesadelo na Cozinha” (com Erick Jacquin, um dos jurados do “Masterchef”) foi um sucesso em sua primeira safra, chegou a ter uma segunda edição projetada, e depois abortada, por corte de gastos. Paola Carosela, outra chef do trio do “Masterchef”, também tinha um projeto de programa na casa, mas parecia muito refinado para a guinada popular claramente tentada pela Band nos últimos meses.

Todo esse cenário faz da rede dos Saad uma refém cada vez maior de um elenco e repertório cada vez mais restrito. Além do “Masterchef” e de seu irrepreensível elenco, incluindo a apresentadora, Ana Paula Padrão, e o ainda não mencionado aqui Henrique Fogaça, a emissora tem hoje como moeda forte a figura de Ricardo Boechat, mas muito mais em função do clamor que ele causa no rádio, via BandNews FM, do que pelo “Jornal da Band”, apresentado por ele e Paloma Tocci.

No momento em que perde uma de suas poucas fichas para jogar na forte competição promovida pela TV aberta, a Band mal consegue tapar buracos. Ao jogar com peças no limite do tabuleiro, o canal vai perdendo chances de se movimentar. É preciso ampliar o número de opções, com apostas em novos talentos, mais baratos que os medalhões, e sobretudo, boas ideias. É na crise que se descobrem as melhores cabeças.

A “sorte” da Band é que a política continua pegando fogo e atraindo muito a atenção do público. E se a casa não conseguiu bancar os direitos esportivos que lhe garantiram forte tradição nesse segmento, por décadas a fio, ao menos as eleições, assunto que também sempre mereceu bom foco da emissora, são um mote para abastecer o repertório da Bandeirantes no atual calendário.

E que dias melhores venham.

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Cristina Padiglione

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