Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Os Dias Eram Assim’ quer abordar o então desconhecido HIV sem esbarrar na depressão

Monique (Leticia Spiller) chega ao hospital com com Nanda (Julia Dalavia), que é atendida por Domingos (Izak Dahora). Foto de Raquel Cunha/Divulgação

Nanda, a personagem de Julia Dalavia em “Os Dias Eram Assim”, foi contaminada com HIV. Essa notícia, lá na década de 1980, era sinônimo de condenação à morte, com grande preconceito respaldado pela falta de conhecimento sobre o vírus. Mas as autoras da história, Angela Chaves e Alessandra Poggi, buscam dar ao caso uma leitura de esperança, principalmente porque a personagem é uma entusiasta da vida e não há de se render à depressão.

Em entrevista ao TelePadi, as autoras reforçam que o preconceito, embora menor que na época, se mantém até hoje. E contam como vão desenvolver o tema na ficção, com disposição em fazer o público refletir sobre tolerância. O caso servirá sobretudo para aproximar a mãe, Kiki (Natália do Valle) da filha caçula, a quem nunca fez questão de compreender.

TelePadi – As gerações mais recentes, diante de novas medicações, têm relaxado nos cuidados com a prevenção à contaminação do HIV. De que forma a série vai retratar todo aquele temor e desconhecimento em torno do surgimento do vírus, algo que hoje se dissipou?

Angela Chaves: Nanda é uma jovem alegre que ama a vida e a sua liberdade. Assim como todos naquele comecinho da epidemia, ela não tinha conhecimento sobre a doença e, portanto, não sabia que precisava se proteger desse perigo. A notícia vai abalar sua cabeça, mas não vai tirar sua vontade de lutar pela vida. Justamente por haver muito desconhecimento, também havia esperança de uma cura estivesse a caminho.

TP – Nanda saberá como contraiu o vírus? O preconceito sobre a forma de contaminação será abordado? Até hoje muita gente acha que a vítima pode ser “culpada” pela contaminação, quando isso ocorre por meio de drogas injetáveis ou sexo, distinguindo vítimas contaminada por transfusão de sangue, por exemplo.

Angela: Nanda contraiu o vírus por contágio sexual, não sabia que na época podia contrair um vírus agressivo e fatal dessa forma. O comportamento sexual e social de Nanda é bastante criticado pela sua mãe Kiki, que tem uma maneira de olhar o mundo mais conservadora. As duas vivem em pé de guerra por causa disso. Nanda cai doente, mas não perde sua verdade, nem sua força interior. Nanda tem valores contrários aos da mãe e não deve ser julgada por isso. As duas se reaproximam. Essa é uma história de amor entre mãe e filha, de entendimento, de respeito e de aceitação.

TP – De que forma o preconceito à convivência com um portador de HIV, vigente na época, será retratado?

Alessandra Poggi: Nanda vai ser acolhida por quem a ama e sofrer preconceito dos que são intolerantes. Vamos mostrar como uma pessoa contaminada deve ser tratada, apesar do medo geral. Frisaremos que o contágio se dá apenas por meio de sexo não seguro, isto é importante pra não reforçar o preconceito, que existe até hoje. HIV não se pega com beijo, nem aperto de mão, mas com sexo sem proteção. Essa é uma história de amor, de liberdade, de luta pela vida, mesmo quando a vida se mostra absurda e triste. Vamos falar de tolerância e entendimento.

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No momento, o Brasil começa a vender em farmácias o teste de HIV que pode ser feito em casa, com restrições sobre o diagnóstico. Dados do programa da ONU para o combate da Aids mostram que, em 2015, havia 830 mil brasileiros vivendo com a doença.

O país tem registrado, anualmente, uma média de 41 mil novos casos.

 

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