Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Oscar sem Rubens Ewald não é Oscar

Tudo bem, Michel Arouca é ótimo, sabe tudo sobre cinema e séries, fala com precisão, tem coerência e forte engajamento nas redes sociais. Mas ele não é incompatível com Rubens Ewald Filho. O TNT não poderia  promover uma dobradinha entre os dois? Afinal, por que foi mesmo que o TNT abriu mão do maior conhecedor mundial de cinema da TV brasileira bem na principal premiação do cinema?

Ninguém diz claramente, mas houve um ruído entre o canal e o crítico na edição do ano passado, quando ele simplesmente informou que Daniela Vega, celebrada por toda a mídia por ser a primeira transexual a participar de uma cerimônia do Oscar, era, na verdade, “ele”. Juro que não entendi a fala dele como tentativa de reconduzir a atriz chilena ao gênero masculino, mas, ao contrário, como meio de informar que ali estava uma transexual, nascida e criada como menino, que depois adaptou sua natureza ao gênero com que realmente se identificava.

A frase “errada” de Ewald rendeu enxurradas de comentários no Twitter, e o próprio crítico, no momento ocupado com a transmissão do evento, mal teve chance de se defender em tempo real na rede de microblogs.

Parece a alguém que Rubens Ewald seria um sujeito preconceituoso no que diz respeito a distinção de gêneros? Onde fica, nessa hora, o tal lugar de fala?

Ao saber que ele não estaria nos comentários ao vivo deste ano, lamentei, mas achei que pudesse estar sofrendo de saudosismo antecipado.

Ontem, vi que não me enganei. Rubens Ewald faz muita falta naquele métier todo. O TNT ainda deu o azar de promover essa retirada de seu crítico mais experiente em um ano de cerimônia fraca, sem a presença de um mestre de cerimônia, com texto sofrível. As piadas não eram só inalcançáveis para nós, brasileiros, mas também para eles. A plateia não ria. Os apresentadores originais tentavam parecer naturais com scripts absolutamente artificiais -e aí, não há tradução que salve.

Nesse contexto, a acidez elegante de Ewald fez ainda mais falta.

Outro efeito negativo evidente de sua ausência foi a seção de memória aos mortos do cinema no ano anterior, antes apresentados ao público, um a um, com breve descrição do comentarista, e dessa vez vistos no mais absoluto silêncio.

De mais a mais, é um desperdício ter um sujeito como Ewald em casa e não aproveitá-lo no seu momento mais nobre. De novo, devo todo o meu respeito ao Arouca, mas eles não são excludentes, ao contrário.

Ewald era o grande diferencial da transmissão. Sem querer desmerecer ainda o trio da Globo (Arthur Xexéo, Dira Paes e Maria Beltrão), o veterano faz toda a diferença nessa hora, ainda mais em ocasiões pasteurizadas, carentes de script, como a cerimônia de ontem.

Tragam o Rubens de volta, por favor!

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Cristina Padiglione

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