Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Paulo Gustavo deixa grande bilheteria de gargalhadas e cenas antológicas

Paulo Gustavo faria uma série da franquia 'Minha Mãe É ma Peça' para o GloboPlay. Foto: João Miguel Jr./Divulgação

Mais triste do que morrer tanta gente por causa de um vírus mal administrado é perder alguém que fazia a gente rir até em meio à tragédia. A morte de Paulo Gustavo aos 42 anos, em decorrência do novo coronavírus, é um roteiro muito ruim para um sujeito que levou 12 milhões de pessoas aos cinemas só em seu último filme.

Antes de ser internado, o humorista vinha alertando constantemente para os riscos da Covid-19, inclusive com memes em que alertava para as pessoas ficarem em casa. Internado em 13 de março, ele passou a utilizar um pulmão artificial para se recuperar. Há uma semana, vinha melhorando, e a equipe médica chegou mesmo a reduzir os sedativos, a ponto de ele voltar a interagir com os amigos e o marido, Thales Bretas, quando veio uma embolia gasosa na noite de domingo, agravando seu estado.

Mais do que protagonista de “Minha Mãe é Uma Peça”, título que nasceu no teatro, ganhou trilogia nos cinemas, virou livro e tinha previsão de se tornar série no GloboPlay, Paulo Gustavo era o criador daquele script, inspirado em sua mãe de fato, Déa Lúcia, que na ficção foi batizada como dona Hermínia, nome de uma vizinha deles.

“Minha Mãe é Uma Peça 3” se tornou o segundo filme mais visto da história do cinema nacional, perdendo apenas para os números oficiais da bilheteria de “Nada a Perder”, cinebiografia de Edir Macedo –com a diferença de que as salas de fato ficavam cheias para ver dona Hermínia de bobes nos cabelos. O longa faturou mais de R$ 180 milhões.

Somando os três filmes, a franquia teve mais de 25 milhões de ingressos vendidos, uma proeza para um país que cultua blockbusters importados da Disney.

O humorista como Dona Hermínia em seu último filme / Divulgação

Toda essa plateia espera de um comediante que ele seja engraçado 24 horas por dia, e Paulo Gustavo assim parecia ser, ou ao menos foi assim que o encontrei em intervalos de gravação do humorístico “Vai que Cola”, do Multishow.

Amigos relatavam que se tratava de um cara com quem era impossível contracenar em situações sérias, sem que uma gargalhada não interrompesse a concentração no set.

Nascido em Niterói (RJ), Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros é de uma geração que não esperava que autores lhe escrevessem um bom texto para exibir seu talento. Ele mesmo criava, ele mesmo dirigia, ele mesmo encenava, e a série “220 Volts”, do canal Multishow, dava essa dimensão.

Formou-se na mesma turma que Fábio Porchat na Casa das Artes de Laranjeiras, a CAL, referência em dramaturgia. Porchat escreveu “Infraturas”, peça que uniu os dois nos perrengues do início de carreira, quando era muito difícil convencer alguém a ir ao teatro para vê-los.

Porchat o entrevistou remotamente para o seu talk show na Record, onde Gustavo surgiu de peruca loira e óculos escuros: “Não vai dar problema dar entrevista para a Record?”, perguntou ele, que trabalhava para o Grupo Globo. “Qualquer coisa você diz que eu era a Xuxa”.

Na ocasião, admitiu que não gostava muito de dar entrevistas. “Por incrível que pareça, eu fico tímido. As pessoas me veem, acham que eu sou comediante, hilário, e eu tô sempre no palco fazendo peça pra um monte de gente, mas é uma coisa à parte. Eu fico sem graça de sentar, dar entrevista, e toda vez que eu sento pra dar entrevista, existe sempre uma cobrança de ser engraçado, e eu acho que eu sou engraçado naturalmente.”

Sobre o “Vai que Cola”, após quatro temporadas, brincou que estava “preso no cenário” ia “pagar” para sair do programa. Mas, mesmo depois de deixar o elenco fixo, cedeu a participações especiais nas temporadas mais recentes

Dona Hermínia, sua maior criação, era calçada nas observações domésticas vividas entre a mãe, a vizinhança e a família, com uma lente de aumento digna da comédia, que fazia da personagem uma mulher permanentemente à beira de um ataque de nervos. Milhões de mães e de filhos foram ao cinema e se identificaram com aquela figura, que se despede bem na semana anterior à celebração do Dia das Mães.

Em 2015, casou-se com o dermatologista Thales Bretas, com quem teve dois filhos, Gael e Romeu, de 1 ano e meio, gestados por barriga de aluguel.

O ator era asmático, mas, segundo a amiga Tatá Werneck, ele não tinha mais crises havia dez anos.  Ao ser internado com Covid, segundo sua assessoria, em 13 de março, seria apenas com o propósito de monitorar melhor o tratamento. No dia 21, no entanto, ele foi intubado, e no dia 2 de abril, após apresentar ligeira melhora, seu estado piorou e o hospital optou por novos recursos no tratamento, com a terapia por ECMO – Oxigenação por Membrana Extracorpórea”, adotada para suprir a insuficiência pulmonar.”

 

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Cristina Padiglione

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