Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Paulo Henrique Amorim disse ao blog que pretendia cumprir o contrato com a Record

O jornalista Paulo Henrique Amorim morreu nesta quarta, aos 77 anos, de infarto. Foto: Divulgação

Morto nesta madrugada, em consequência de um infarto fulminante, aos 76 anos, Paulo Henrique Amorim trocou uma mensagem com esta jornalista nos dias 24 e 25 passados. Afastado do Domingo Espetacular, ele respondeu à procura do blog, interessado em ouvir sua versão sobre o caso, na ocasião. “Caríssima, agradeço sua preocupação em me ouvir, mas prefiro reafirmar apenas que a Record decidiu manter o contrato que temos, e que vigora por dois anos. Abrs”, escreveu ele, via whatsapp.

No dia seguinte, diante do texto sobre seu afastamento na coluna Zapping, assinada por esta mesma escriba no jornal Agora São Paul, apenas complementou: “Sua nota de hoje está corretíssima! Obrigado, abrs”.

O texto informava que PH, jornalista que sempre se posicionou claramente por ideias de esquerda, defensor dos governos Lula e Dilma (e nem sempre ele foi um defensor de Lula, convém lembrar), resistia em aderir ao atual posicionamento de seu empregador, Edir Macedo, em favor do governo Bolsonaro. Daí seu afastamento da tela.

A Record pode alegar que vem reformando e criando formatos no seu jornalismo, mas tirar do ar um profissional com um dos mais altos, senão o mais alto, salários da casa, sem lhe dar um novo destino, não encontra explicações razoáveis.

Desde que deixou a Globo, em 1996, após longa trajetória como correspondente internacional em Nova York, PH se tornou um contumaz crítico à emissora dos Marinhos, sustentando um discurso que era conveniente à Record. A própria Record foi grande aliada do governo Lula, que tinha José de Alencar como vice e toda a bancada evangélica a seu favor. Mas esse jogo foi virando e Macedo acompanhou a movimentação da mesma bancada evangélica do Congresso rumo à oposição ao PT, até ter na figura de PH alguém no mínimo inconveniente para o momento atual.

O presidente Jair Bolsonaro já disse e repetiu algumas vezes que só os veículos “sérios” serão contemplados por verba publicitária do governo. E “sérios”, neste caso, significa não alimentar informações que possam dar qualquer viés negativo às suas ações, por mais controversas que elas sejam. A Record tem merecido de Bolsonaro o maior número de entrevistas exclusivas concedidas pelo presidente desde que ele era candidato.

Nesse contexto, convenhamos, o afastamento de Amorim até que demorou a acontecer. Pode-se dizer que ele já esperava por isso havia algum tempo.

No alto comando da Globo, na época em que PH passou a atirar contra a emissora, havia a versão de que PH batia na empresa porque queria apresentar o Jornal Nacional e a casa não cedeu ao seu pedido. Isso foi o que ouvi de um alto executivo na ocasião, o que jamais tive oportunidade de confrontar com uma argumentação do jornalista. De tanto criticar a Globo, o discurso de PH passou também a se tornar trivial para a rede dos Marinhos, que já não mais respondia às suas provocações, algumas até muito pertinentes, outras, por pura picuinha.

PH encarou a derrota por dois processos movidos pessoalmente por ex-colegas do plim-plim: Heraldo Pereira, a quem chamou de “negro de alma branca”, sendo condenado por “injúria racial”, e a Merval Pereira, ex-diretor e atual comentarista da Globo, a quem teve de pagar 30 salários mínimos, por outras ofensas.

O bordão “Olá, tudo bem?”, criado por sugestão de um executivo da CNN, virou sua marca na Record, onde estava desde 2003, após passagens pela Bandeirantes, de onde também saiu rompido, pela TV Cultura e pelo UOL.

Criado em 2006 para o portal IG, o Conversa Afiada, de sua autoria, passou a ser uma das mais conhecidas plataformas em favor dos governos Lula e Dilma. Doze anos antes disso, no entanto, em agosto de 1998, PH acusou o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva, no Jornal da Band, de adquirir apartamento e carro por meio ilegal, em meio a campanha eleitoral presidencial, e foi obrigado a dar direito de resposta a Lula, após as investigações sobre aqueles negócios se mostrarem infundadas.

A condição de crítico à Globo aos poucos foi se estendendo a crítico de boa parte da imprensa e ele veio a ser um dos criadores da sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista), aí então, já em favor dos governos Lula e Dilma. Ultimamente, arrefeceu o tom contra esta mesma imprensa, mas não se rendeu à pressão do governo Bolsonaro junto à Record.

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Cristina Padiglione

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