Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Por que o ‘Tá no Ar’ vai acabar? ‘O sucesso não é lugar confortável para o artista’, diz diretor

O diretor Maurício Farias, ao lado de Marcelo Adnet e Marcius Melhem. Crédito: Paulo Belote/Divulgação

Diretor do “Tá no Ar”, Mauricio Farias conversou com o TelePadi sobre o fim do “Tá no Ar”, decisão que vem sendo amadurecida entre ele e os cocriadores do programa, Marcius Melhem e Marcelo Adnet, há pelo menos dois anos. Ao ser comunicada sobre a decisão do trio de não passar da 6ª temporada, fechando as cortinas em 2019, a direção da Globo acatou, mas pediu que o time crie um novo projeto de humor para a grade de 2020, o que vem sendo pensado para o mesmo time que hoje se ocupa do “Tá no Ar”.

“O fato é que, para o artista, o sucesso não é um lugar muito confortável”, explica Farias. “Ele tem um preço, se você fica ali estacionado por muito tempo, esse preço vem.”

Não que o programa tenha estacionado. O ideal, diz, é sair de cena antes de estacionar, “porque quando você percebe que estacionou, não poderá sair imediatamente.”

Farias fala sobre o assunto com a experiência de quem criou o mais longevo seriado da TV, “A Grande Família”, nascido a princípio como um remake do original (1972-1975), que se estendeu  por 14 anos. Farias deixou o programa no décimo ano, para criar outro seriado longo, “Tapas e Beijos”, que também foi além do planejado.

Nem “A Grande Família” nem “Tapas e Beijos” chegaram a “estacionar”. Ambos saíram de cena deixando saudades, e no caso de “Tapas”, com audiência no ápice. Mas o ideal, para o diretor, seria não cair na tentação de espichar a vida útil do programa, tornando-se refém do sucesso.

“Eu falei sobre isso com o Marcius e o Adnet quando começamos o ‘Tá no Ar’. Era a experiência que eu trazia. Tem que ter no mínimo dois anos de  antecedência para anunciar que vai parar, entendeu? Na ‘Grande Família’, até o sexto ano a gente falava que aquele ano seria o último. Até que uma hora paramos de falar porque não nos mexíamos. Evidentemente, é sempre difícil dizer pra uma emissora: ‘olha, o programa é um sucesso e a gente quer parar’”.

Farias ressalta que considera o “Tá no Ar” “incrível”. “Mas acho muito tempo para ficar com o programa no ar. Aquilo acaba trazendo marcas e a gente abre mão de muitas outras oportunidades: era essa um pouco a nossa política dentro da própria ‘Grande Família’. E quando a gente foi fazer ‘Tapas e Beijos’, a gente já começou com essa experiência. A Fernanda (Torres) tinha feito ‘Os Normais’, a Andréa vinha da ‘Grande Família’. Elas gostam de fazer coisas e a gente também se propôs a fazer o programa por 3 anos, esse foi o nosso acordo com a Globo, e o programa durou 5. A gente não conseguiu parar quando quis, mas parou bem, o programa terminou no auge, deixou saudade, e é melhor ter saudade do que o contrário. É bem melhor do que sair dali cansado, achando aquilo um saco, com as pessoas sem motivação.”

O time comunicou à Globo no ano passado que planejava parar na sexta temporada. Agora, o grupo pensa em um novo programa. “A Globo combinou com a gente assim: vocês podem tirar o programa, mas proponham outro’. A gente vai começar a trabalhar nisso a partir de agora. Não é fácil. Esse pedido da Globo é meio ingrato: criar um novo projeto ao mesmo tempo em que a gente produz a última temporada do antigo não é fácil. A gente tem uns 4 ou 5 meses de criação na redação, depois começa a gravar, e tem coisas que a gente faz de última hora, para deixar o programa mais quente.”

Na temporada que terminou semana passada, por exemplo, o “Tá no Ar” conseguiu incluir em pelo menos dois esquetes menções à execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), morta no dia 14 de março.

“Vai ser um bom desafio, partir de um bom programa como esse para uma coisa de humor que seja um programa novo, que vá para um lugar, que tenha como desafio o mesmo desafio que a gente teve quando começou o ‘Tá no Ar’, que era deslocar o humor para um território novo naquele momento. Não que o que a gente fez não tenha sido feito antes, mas naquele momento, aquilo que fizemos estava fora do ar.”

Enquanto começam a pensar na última temporada do programa, Farias faz um balanço, a pedido do TelePadi, da última temporada. “Achei que o programa continua se comunicando bem com o seu público, teve uma audiência muito boa, ele teve uma audiência muito estável, ficou entre 15 e 14 pontos.” E ainda tem a audiência do streaming, que no caso do “Tá no Ar”, via Globo Play, vai muito bem, obrigada.

 

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