Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Quando a publicidade presta serviço: FOX exibe documentário encomendado sobre menstruação

A argentina Candela, que fez arte na lousa da escola com absorventes pintados de vermelho / Divulgação

As marcas nunca quebraram tanto a cabeça para saber como se comunicar com um consumidor que cada vez mais tem a chance de saltar os intervalos comerciais ou de simplesmente acessar conteúdos sem publicidade – vide Netflix e HBO GO. E falamos, nesses casos, de espectadores de maior poder aquisitivo, e portanto, maior poder de compra.

Nesses dias, publicitários e vendedores de mídia pronunciam a expressão “branded content” como se bebessem água: todo mundo quer fazer esse tipo de comercial, que consiste basicamente em transformar publicidade em conteúdo que atraia o interesse do público, mas poucos alcançam êxito no negócio.

Como me disse ainda outro dia a diretora de TV Elisabetta Zenatti, dona da produtora Floresta, que vem desenvolvendo ações do gênero, “branded content” não pode ser apenas um webreality pago com uma sobra da campanha publicitária convencional. É preciso pensar no entretenimento em primeiro plano e, a partir disso, agregar o valor da marca que pretende se vender naquele produto.

Digo tudo isso para contar que me surpreendi positivamente com o anúncio, da FOX, sobre um documentário intitulado “Nosso Sangue, Nosso Corpo”, apresentado por uma marca de absorventes – no caso, a Sempre Livre – para falar sobre um assunto que estranhamente se evita: menstruação.

O programa chega ao conhecimento da gente sem tentar disfarçar sua origem: é uma iniciativa da Sempre Livre que busca reforçar o novo posicionamento da marca, na tentativa de tornar mais natural e menos bicho de sete cabeças a conversa sobre menstruação.

“Nosso Sangue, Nosso Corpo” vai ao ar nesta sexta, dia 17, às 15 horas, pela FOX, tendo como protagonistas cinco jovens de diferentes países: a brasileira Natália, de 13 anos, a argentina Candela Abril, de 18, a indiana Aranya Johar, de 18, e as sul-africanas Luciana Fasani, de 19, e Miche Wiliams, de 18. As meninas falam sobre o assunto em espaços já ocupados por elas: escola, casa, balada e redes sociais.

O documentário busca criar um diálogo aberto sobre a menstruação com garotas da Geração Z, por meio de personagens bem diferentes que abordam também outros assuntos do universo feminino como sexualidade, crenças, família e progresso feminino.

“Expor assuntos que possam de alguma maneira contribuir para a transformação do papel da mulher na sociedade é muito importante”, celebra Wladimir Winter, diretor do FOX Lab, área de criação de conteúdo para marcas e inovação do grupo no Brasil.

Diretor de Marketing da Johnson & Johnson Brasil, que abriga a marca em questão, José Cirilo ressalta que “o tema é universal, não importa a cultura, o país, crenças ou contexto social”, podendo “mobilizar e conectar as mulheres em todos os lugares do mundo que menstruam e que passam por processos físicos e emocionais similares.”

O programa encomendado pela empresa vai ao ar nos canais FOX do Brasil, Argentina, Equador, Peru, Paraguai e Uruguai. Também ganhará ações em digital com influencers, com o lançamento da página www.nossosanguenossocorpo.com, e veiculação no YouTube do canal FOX.

Com 52 minutos de duração, “Nosso Sangue, Nosso Corpo” mescla linguagem documental e ficcional, com uso de elementos gráficos.

Vamos falar dos países onde as mulheres se envergonham de sair à rua por estarem menstruadas ou de faltam ao trabalho, também por acanhamento ou indisposição.

A argentina Candela foi suspensa de uma escola de Buenos Aires por ter colado absorventes pintados de vermelho na lousa. “Na escola, é normal menstruarmos ao mesmo tempo, e pedirmos absorventes às colegas. Um dia, um dos nossos colegas viu, e disse: ‘Que nojo. Por que estão tirando isso aqui?’ Então decidimos pintar os absorventes e colar todos na lousa. Não foi minha primeira suspensão”, conta, da sala de aula, repetindo a atitude que levou à expulsão.

Já a indiana Aranya, poetisa, defende em um de seus poemas mais famosos as mulheres deveriam menstruar sentindo-se orgulhosas.

A ação, vamos dizer a verdade, está longe de ser uma maravilha para a rotina da gente, mas tratar a coisa como tabu só piora a relação da mulher com seu corpo. Vamos falar de menstruação com todas as letras, sem os disfarces incentivados por eufemismos como “desceu pra mim”, “estou naqueles dias” ou “fiquei mocinha”, como se uma reação natural fosse motivo de vergonha.

Abaixo, um trailer do programa:

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Cristina Padiglione

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