Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Quem tem ritmo é escola de samba’: autor fala sobre a dramaturgia de ‘Onde Nascem Fortes’

Grandes interpretações: Fabio Assunção, o juiz, e Enrique Dias, o delegado, que começa a deixar de 'obedecer' o magistrado. Foto de Estevam Avellar/Divulgação

Entre a primeira e a quarta semana de “Onde Nascem os Fortes”, série das onze na Globo, a insana busca pelo paradeiro de Nonato (Marco Pigossi) pareceu a uns e outros, habituados a uma dramaturgia frenética de TV, que faltava “ritmo” ao enredo de George Moura e Sérgio Goldenberg. Críticos que somos, e me incluo nessa categoria e equívoco, temos o hábito de apontar o “ritmo” de uma produção para diagnosticar o peso da atenção do público.

Defensor de uma narrativa que se esmere não só em tramas atrás de tramas, mas também na construção e desconstrução de personagens como fator aliado ao entendimento do enredo, Moura sentencia: “Quem tem ritmo é escola de samba. Nós fazemos dramaturgia”.

Adorei a frase.

Fui ao seu encontro no Instituo Moreira Salles (IMS), na Avenida Paulista, na última sexta. Era fim de tarde, e, àquela altura, ainda tinha a cabeça latejando pela cena de Maria (Alice Wegmann) esfaqueada, imagem que encerrou o capítulo da véspera.

De pronto, Moura amorteceu minha ansiedade por um simples spoiler (“Maria não vai morrer, vai?”), ao contar que havia acabado de visitar a exposição Conflitos: Fotografia e violência política no Brasil 1889-1964″, em cartaz até 29 de julho no último andar do IMS.

Na definição do IMS, a exposição “contradiz a imagem do Brasil como país pacífico e oferece um olhar sobre a história nacional que colabora na compreensão da atual crise política.” E não é mera coincidência que a nossa conversa a seguir propusesse um balanço sobre uma série que retrata o poder da violência em um país onde o poder público tanto falha. Ainda no capítulo desta segunda-feira, Plínio (Enrique Diaz) executa alguns detentos, sob o pretexto de “esvaziar” celas lotadas na única delegacia local, em uma sequência chocante.

O dramaturgo George Moura. Foto de Estevam Avellar/Divulgação

Escrita com Sérgio Goldenberg, sob direção artística de José Luiz Villamarim, com direção geral de Luisa Lima e a direção de Isabella Teixeira e Walter Carvalho (também diretor de Fotografia), “Onde Nascem os Fortes” exibe nesta terça o 44º de 53 capítulos, com uma nova virada de página.

A menos de dez episódios do fim, fizemos um balanço da carpintaria erguida para colocar a produção no ar, das reações do público e da ousada aposta de uma TV aberta em uma narrativa enxuta, sem didatismo e excesso de diálogos, que, prática rara nesse segmento, respeita pausas e faz do silêncio uma informação relevante ao roteiro.

E veja que nem entramos nos méritos do elenco, que são muitos. Quem ainda não viu ou desistiu de ver em função do horário ou da ansiedade por tramas em cima de tramas, retome a cena, que vale a pena. Fica a dica.

Eis a nossa conversa:

TelePadiMaria não vai morrer, vai? (pergunto isso antes de constatar que ela não morreria da facada tomada na prisão)
George Moura – Os meus pais também assistem e meu pai sempre me liga entre o intervalo de um bloco e outro, e no final, ‘mas a Maria vai morrer?’. Minha mãe disse que se Maria morrer, ela não fala mais comigo. É uma ótima pergunta porque quando a gente constrói uma dramaturgia, e a gente tem a possibilidade até de matar os protagonistas, isso é muito legal, causa uma surpresa, não só no espectador, mas em todo mundo. Eu lembro, voltando a ‘Amores Roubados’ (também de sua autoria, com direção de Villamarim), quando matava o Leandro (Cauã Reymond) no capítulo 6, todo mundo veio me perguntar: ‘tem certeza que você vai matar o protagonista?’.
Gosto, também como construção, de ela ter cruzado, dentro da cadeia, com a mulher do homem que ela matou. Então, é uma fatalidade de um acerto de contas naquele cubículo.

TP – Boa parte da programação de TV pode ser compreendida só pelo áudio, quase como rádio, e a TV aberta até se empenha por esse didatismo. Mas ‘Onde Nascem os Fortes’ escapa disso. Há muita informação que não vem descrita em diálogos, só pela ação. É proposital?
GM – Tem dois dados aí: tem a mise-en-scène, mas tem também a coisa da economia das palavras. Fala-se pouco, mas o que se fala é muito relevante, porque às vezes, o excesso de palavras banaliza. Isso tem a ver com ‘vamos fazer uma supersérie, não vamos fazer uma novela. Então, qual foi a preocupação matriz, para a largada? O horário permite temas mais intensos, tramas um pouco mais complexas, poucos personagens. Então, para nós, do ponto de vista da narrativa, se um seriado americano tem 12 episódios, nós estamos fazendo 4 temporadas e meia de uma vez só.

TPÉ como se eu assistisse ao ‘Breaking Bad’ de uma vez só.
GM – Exatamente. O que se leva 4 ou 5 anos nos EUA pra fazer, a gente fez em um ano. São 8 ou 9 personagens que conduzem aquela história. E é uma história que tem um tema que amarra os personagens todos. E como tem uma grade de exibição agora diária, as pessoas assistem fazendo perguntas como se aquilo fosse uma novela. Ela não tem a exibição semanal da televisão a cabo americana, nem o binge watching do streaming. Então, vêm essas perguntas: ‘não tem um alívio?’, ‘não tem um núcleo cômico?’. Não. Isso leva a uma intensidade, mas é um pouco parecido como se você pudesse assistir a 4 temporadas de uma série de uma vez só, só está concentrado.

TP – Como exemplo de ‘informações não ditadas em áudio’, no capítulo de ontem (quinta-feira), a cena em que o Ramirinho (Jesuíta Barbosa) se esfrega no Tião, é uma informação sem texto.
GM – Exatamente. E tem uma escrita da rubrica, não é só a escrita do diálogo. Na rubrica, tem a intenção. Obviamente, na parceria com o Villamarim, a gente estabelece esse tipo de diálogo. A gente sabe que entre uma fala e outra, há um espaço da mise-en-scène. Tem um plano em que o Ramiro (Fábio Assunção) está falando com os passarinhos, e ele fala o nome de um passarinho enquanto Cássia (Patrícia Pillar) está chegando e ele não a vê chegando. Aquela mise-en-scène, de ele não ver ela chegar e ele se referir a um nome de passarinho, que remete a outra informação, isso você só compreende vendo.

TP – Isso é muito mais sério do que novela. Novela das nove não pode se dar a esse luxo, de só ser compreendida com dedicação maior do telespectador.
GM – Muito mais. Eu acho que nós somos de uma geração de roteiristas que viemos do cinema e da televisão, nós não viemos da matriz do rádio, como os novelistas antigos vinham. Acho que isso é um diferencial. E é uma reflexão interessante essa ideia de que a exibição assemelha a supersérie a uma novela, mas a proposta narrativa é de série.

TP – Notei que vocês não descrevem o nome da droga que o Ramirinho usa, aquele ‘pozinho branco’, e a novela das nove, ‘Segundo Sol’, demorou um pouco para falar em MDMS e “Michael Douglas”, como é conhecido o ecstasy. Há uma recomendação da direção da Globo para não se denominar as drogas citadas na dramaturgia?
GM – Não, ele fala ‘o pozinho’. Porque MDMA, ou ‘Michael Douglas’, 80% da população brasileira não sabe o que é. No fundo, eu não recebi nenhuma orientação para não falar o que é. A nossa preocupação era deixar claro que ele estava usando um aditivo químico de uma droga. Isso era mais importando do que nominá-la.

TP – Até descobrirem o corpo do Nonato, mais de 20 capítulos se passaram. O Nilson Xavier, especialista no assunto, até escreveu um texto dizendo que ‘Onde Nascem os Fortes’ não era para os fracos, em referência a uma narrativa que parecia mais lenta, e talvez houvesse mesmo aí algo que pudesse ser mais enxuto. Vocês, autores e diretores, sentiram isso assistindo à série já no ar?
GM – Eu vi o artigo. A gente está acostumado, em seriados, com ‘trama trama trama’. E em novela, também, ‘trama trama trama’. E às vezes, a ‘trama trama trama’ não precisa nem ter uma construção tão crível ou tão verossímil. Nós fizemos uma opção, dentro da supersérie, de ir sedimentando e construindo de uma outra maneira, que era uma mistura de tramas, mas, tão importante quanto a trama é o que eu chamo das ‘implosões dos personagens’. Então, às vezes, um personagem que vive uma situação, como ele desmonta, como ele repercute dentro dele o silêncio, a dor, a alegria, é tão importante quanto ‘trama trama trama’.
A gente sabia que seriam 12 semanas no ar, e a gente fez uma escala dos movimentos. Dividiu: a cada três semanas, uma virada, e dentro dessas viradas, as viradas de capítulo e as viradas de bloco. Isso tem uma matemática.

TP – Nada é casual?
GM – Exatamente. Então, essa ideia de ficar o gato e o rato era uma maneira clara e deliberada de estabelecer uma conexão pela paixão e pelo ódio dos casais, que são Hermano (Gabriel Leone) e Maria (Alice Wegmann), e Cássia (Patrícia Pillar) e Pedro (Alexandre Nero). A gente fez esse momento de forma  temperada. Como o espectador vai ler, ou como um crítico A ou B vai ler, isso é uma coisa que não nos compete. Agora, no ar, nós não tivemos essa sensação. Estamos avançando. Agora, claro, quando veio a virada do corpo do Nonato, que estava previsto desde o início, tinha até essa dúvida, se isso iria até o final. ‘Ah, mas vai ficar até o final?’, e a gente: ‘não, vamos queimando histórias’.
Mas são estratégias de narrativa. Pegando um comparativo, a versão original de ‘O Rebu’ tem 122 capítulos. Somente no capítulo 57 é que se sabia de quem era o corpo que boiava na piscina. No nosso ‘Rebu’, na cena 1 do capítulo 1 já se sabe de quem é corpo na piscina. Ali tinha um certo segredo de polichinelo, e falamos: ‘vamos entregar logo quem morreu’. Aqui, não, aqui era uma outra estratégia. Não é essa, a descoberta de que o Nonato morreu, a única virada da supersérie, há muitas outras. O próprio Nilson, eu li depois, fez uma reconsideração do que ele havia dito.

TP – Na verdade, é uma falsa lentidão, porque há o ritmo pausado do sertão, mas se você perde um capítulo, você perde uma história. Todo dia acontece alguma coisa relevante.
Moura – Exatamente. A gente fez apostas radicais. Do ponto de vista da economia dos diálogos, que não são expositivos e tentam ou cotejar a poesia ou a ‘faca só lâmina’, o substantivo sem gordura, só musculatura: isso é uma escolha incomum hoje na narrativa audiovisual. Então, a gente escolheu um processo de filmagem com pouca decupagem. Não é plano e contraplano. A gente escolheu uma linguagem que tem 70% de externas e 30% de estúdio, e um ritmo de escrita, de narrativa, que é um ritmo que não é (estala os dedos, indicando imediatismo)… Quem tem ritmo é escola de samba. Ritmo é escola de samba. A gente tem dramaturgia. A gente busca essa dramaturgia. E essa dramaturgia é um suor para chegar lá. Agora, é natural que alguma parte do público, acostumada a um tipo de narrativa, estranhe, ou venha a aderir, mas com uma curiosidade.
Nesse sentido, a TV Globo, o Silvio de Abreu, eles apostaram nisso. O Silvio viu, leu esses capítulos, e ele nunca disse um ‘A’.

TP – Mas isso porque você está na faixa das onze da noite…
GM – Sim, mas é aposta. E estamos com ótimos números de resposta também nas redes sociais, crescentes, isso é legal de ver. Teve uma turista que veio perguntar: ‘mas vocês fazem esse negócio é com outra câmera, né?’, como se um outro equipamento técnico é que desse aquele caráter, aquela escrita à cena, à maneira de enquadrar. ‘Porque não pode ser com a mesma câmera da outra novela e da outra’. Isso é muito emblemático.

TP – Mas tem um filtrinho de imagem ali…
GM – Ah, sim, ali tem umas escolhas da direção, do Villamarim, junto com Walter Carvalho, ali de fato tem. Ali tem uma luz que a gente diz que ela rasga, mas não fere, essa é a ideia. E é uma aposta. Porque não é aquele céu da propaganda da Coca-cola, atochado no croma. É uma luz que dialoga muito mais com o cinema novo.
E essa expressão do João Cabral (de Melo Neto) que eu amo, que é ‘a faca só lâmina’. Você imagina o que é uma faca só lâmina? É uma faca que se eu te dou e você pegar, você se fere. Porque ela é só lâmina. Ou seja, é uma faca reduzida à essência do que ela é: corte. E você não tem cabo para segurar. Isso é tudo. Então, eu acho que na dramaturgia, na mise-en-scène, a gente quis construir uma faca só lâmina.

TP – Bom, não estamos diante de uma história que nos leve a esperar por dias melhores, ao contrário. ‘Onde Nascem…’ pode ser lida como um choque de ceticismo, ou até de pessimismo, em meio a essa eterna busca pelo final feliz? 
GM – Eu acho que não. Uma das ideias, quando eu quis fazer essa história, era um pouco a reflexão de que o brasileiro, se ele está dessa maneira tão exacerbado, isso não nasceu do nada. Vá a essa exposição aqui em cima, de fotografia e violência e você vai entender que essa ideia de que a oposição a essa sociedade está armada, e que a fúria parece que vai vencer o bom senso, é uma genealogia, que eu fiquei absolutamente impressionado quando olhei ali Canudos, o corpo de Conselheiro, eu vi as cabeças do cangaço, eu vi a guerra do Contestado, eu vi as redações em 54, quando Getúlio se suicida, todas destruídas, a Revolução de 30, com a cidade de São Paulo toda bombardeada, e as pessoas todas armadas. Então, a gente não está em 2018 com esse grau de assertividade à toa, acho que ela está falando desse Brasil que eu falo que não é o Brasil cordial, é o Brasil feroz.

TP – Vocês escreveram tudo antes de ir para o ar e gravaram mais de 2/3 da produção também antes da estreia. É possível moldar a edição de acordo com a repercussão da audiência ou isso nem tem sido levado em conta?
GM – Não, não. É do processo mesmo. É claro que a gente identifica coisas que respondem, por exemplo. A Shakira do Sertão (Jesuíta Barbosa), a gente achava que era um personagem forte e emblemático, mas isso se superou. Eu vi esta semana no TT (Trending Topics do Twitter), ele entrou como ‘Shakira do Sertão’, ‘Ramirinho’ e ‘Sertão’. E tem uma coisa muito humana. Um pai que sempre quis que o filho fosse o que ele acha que é melhor para o filho e um filho que vê que o seu desejo se confronta com o pai, o que ele faz? A força dele é no silêncio. Até o momento em que ele não aguenta mais e ele revela. Quando revela, ao mesmo tempo, aquilo permanece incomodando o pai. Quando ele revela, aquilo começa a implodir. A droga é um meio de implosão porque mesmo depois de dito, é muito duro ele sustentar aquela situação naquele lugar, sabendo que para o pai ele é um nada. Mesmo se afirmando ele sofre. Precisa ser muito forte para manter aquilo.

Shakira do Sertão, personagem do personagem Ramirinho (Jesuíta Barbosa) superou expectativas de repercussão

(Um parêntese: no capítulo desta segunda-feira, o juiz pergunta ao filho o que mais ele quer da vida, já que ele, pai, já aceitou até que o rapaz se vista como mulher. “Eu queria parar de sentir medo do senhor”, responde Ramirinho).

TP – Falando em Ramirinho e na edição, tem todo um trabalho musical que dialoga com o roteiro, a ponto de o Jesuíta ter inclusive gravado uma versão de ‘Mal Necessário’, com uma letra que parece ter sido feita para o personagem.
GM – No trabalho de montagem, a gente trabalha muito com isso, com a coisa da música, sim, mas também com o silêncio, e as canções também têm suas funções. A gente entra com Fagner (‘Jura Secreta’), e daí ele me escreve – ‘Pedro arrasando corações’ (risos) é o tema com a Cássia.
Quando o Jesuíta foi gravar com o maestro, o Eduardo Queiroz, a preocupação não era de que o Jesuíta se tornasse um cantor, como a Ísis precisou e tornar no ‘Canto da Sereia’, não. A intenção era que ele fizesse uma canção dramática. ‘Sou um homem, sou um bicho’ é ele. Então, quando ele foi ficando melhor cantor, o Villamarim disse: ‘não, fique pior cantor’. É o acorde dissonante. E tem a ‘Minha Honey Baby’, que é uma gravação maravilhosamente errada. É aquela ideia do Lenine, que eu amo e tento botar na escrita: ‘Eu quero mais erosão, menos granito, eu não quero a gravação, eu quero o grito’. É nisso que eu acredito.
O tecnicamente perfeito fica sem alma, tem que ter uma coisa torta, desengonçada.

TP – Mas e então: podemos esperar um desfecho otimista ou pessimista?
GM – Eu diria que não vai ser pessimista. No ‘Amores Roubados’, o Leandro (Cauã Reymond) morria, mas ele renascia na gestação de Antonia (Ísis Valverde). A Angela Maler do Rebu morria, mas ali estava cheia de culpa no cartório. Em ‘Onde Nascem os Fortes’, talvez pela própria situação do Brasil, a redenção e o amor estão muito mais argutos do que nessas outras histórias que a gente contou. Acho que foi uma necessidade nossa mesmo que o Pedro Gouveia é o empresário que tem dinheiro e quer morar lá, ele acredita no Brasil. O Hermano poderia ir estudar em qualquer lugar, mas ele quer ficar naquele lugar, ele gosta daquele lugar, nesse sentido, são pessoas aficionadas pela terra, que amam este país.

TP – Maeve Jinkings (Joana, na série) comentou comigo que via na série a abordagem das fragilidades masculinas de um homem em mutação, em função do empoderamento feminino. Na semana passada, numa inversão de papéis muito boa, Cássia desmancha o sorriso ao amante quando ele lhe conta que se separou da mulher. A série enfoca a crise desse novo homem?
GM – Os homens nessa história, não vou exagerar, mas o Hermano e o Pedro têm questões, eles são às vezes violentos, mas eles têm questões. As mulheres são muito mais objetivas. Rosinete (Dégbora Bolch) propôs ao Pedro: ‘você diz que um dos seguranças matou e pronto’. E ele não aceita. São mulheres muito verticais e muito fortes. E os homens, que em geral, numa situação árida e sertaneja, deveriam ser assim, não são. A força que a Joana tem, de seduzir o Pedro, de seduzir o Samir… são mulheres muito fortes.
Nesse sentido, a minha formação como homem e como nordestino era muito presente. Quando eu vim para São Paulo para estudar, eu saí de lá do Recife e era aquela coisa: ‘você tem que dar certo, você não pode voltar, porque se você voltar será um fracassado’. Essa coisa das brigas, lá no Recife, teve um período de brigas de turmas com horário marcado, que era essa coisa da luta de espada, muito masculino e muito ingênuo, muito infantil.
O Pedro agiu de forma infantil para proteger a amante, que depois deu-lhe uma volta e ele caiu no chão. Ele ter a grandeza de chegar para a Cássia e pedir perdão, e ela reconhecer isso é muito maduro, muito adulto e não é uma construção tatibitate. Agora, quem mais usufrui disso são as pessoas que têm mais repertório, e isso é bacana.

TP – Mas há uma torcida e uma esperança de também levar repertório a quem não tem muito. Você tem essa expectativa?
GM – Eu sou um otimista incurável, porque eu tenho quatro filhos, então eu acredito que o mundo tem que ficar melhor, senão eu me mato e mato eles. Eu acredito que esse risco de dramaturgia vai revidar. Você vê jovens assistindo, jovens comentando. É a história que o Ariano Suassuna conta, maravilhosa: ‘O povo diz que cachorro gosta de osso. Isso é porque não dão filé a ele. Se der filé, ele vai preferir o filé’. Então, acho que a gente tá nessa crença e a gente vem fazendo isso com essa turma, que televisão a gente não faz sozinho, faz com um bando de loucos.
A gente faz televisão aberta gostando de fazer televisão aberta, e não achando que o espectador não vai entender, a gente acha que o telespectador pode entender outras coisas que não lhe são oferecidas todo dia.

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Em tempo: até o capítulo 43, exibido na segunda-feira, “Onde Nascem os Fortes” tinha média de 17,5 pontos na Grande São Paulo, ante 21 de “Os Dias Eram Assim” (beneficiada, é verdade, pela exibição mais cedo também às quintas, além das segundas-feiras).

É quase a mesma média de “Liberdade Liberdade” (17,9), menos que “O Astro” e “Gabriela” (19,1, ambas estruturadas mesmo como novelas, e não como séries). Fica ainda abaixo de “Verdades Secretas”(19,6), mas acima de “O Rebu” (14,9) e de Saramandaia (15,1).

Os dados são da Kantar Ibope Media. Um ponto na Grande São Paulo atualmente corresponde a 71,85 mil domicílios.

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Cristina Padiglione

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