Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Inédita, abordagem das drogas em ‘2º Sol’ vai do tráfico ao consumo

Remy (Vladimir Brichta) representa a etapa dos atravessadores de droga, figura essencial entre o macrotraficante e o consumidor final. Foto: Reprodução de tela

Devagar, devagarinho, “Segundo Sol” vem entrando em uma relevante abordagem sobre tráfico de drogas, de modo a cobrir todo o processo do negócio, do macrotraficante aos consumidores. Até aí, isso não chega a ser novidade em novela. Mas o enredo de João Emanuel Carneiro começa a mergulhar em uma etapa crucial para o funcionamento da cadeia que movimenta o negócio, de forma nunca antes vista no gênero: a figura dos atravessadores do produto e o quão inseridos eles estão no dia a dia das pessoas ditas “de bem”.

O sujeito que faz a droga chegar ao consumidor final pode ser o seu vizinho ou o seu colega de trabalho, fugindo completamente do rótulo e da caricatura que normalmente a dramaturgia faz sobre traficantes e dependentes.

No capítulo desta segunda-feira da novela da Globo, Remy (Vladimir Brichta) é encurralado por Laureta (Adriana Esteves), a princípio só uma cafetina influente em Salvador, e pelos agiotas a quem ele deve 70 mil reais – Boris (Saulo Rodrigues) e Juarez (Tuca Andrada) –  a distribuir drogas, fazendo do bar dos pais um ponto de entrega do MDMA, princípio ativo do ecstasy. Remy se vê forçado a obedecer ou morrer.

Ao ver os pacotes que lhe entregam, pergunta: “O que é isso?” “Como ‘o que é isso?’, Remy?”, devolve Laureta. “Você não conhece? Droga, droga sintética, MDMA. Você vai ajudar Juarez, que é companheiro, que é parceiro de Boris na operação aqui na Bahia. Você pega essa goiabada, esconde na casa dos seus pais, porque é livre de qualquer suspeita, e você fica repassando pra todos os atravessadores que te procurarem, uma beleza de trabalho, é simples e fácil”.

A novela começou tocando no assunto por meio de Manu (Luísa Arraes), que comprava comprimidinhos de Narciso (Osmar Silveira), namorado de sua irmã, Rochele (Giovana Lancelotti), o traficante da ponta final do negócio. Nos últimos capítulos, Manu tem dito que está “limpa”, sem consumir a droga, mas o expediente de Narciso continua sendo mencionado pela namorada, que descobre que ele, apesar de traficante, é pobre.

A chegada de Remy e Laureta, personagens centrais da trama, a esse cenário, aponta para a importância que o assunto vai ganhando na história. Muitas novelas já mexeram com o tema, mas não sob esse olhar que coloca o perigo muito próximo de quem se acha protegido do risco às drogas por não frequentar lugares ou pessoas suspeitas. Em geral, mostra-se o traficante que manda no morro ou o dependente químico que gera um sem número de problemas à família e a sua vida.

A leitura de que a droga está muito próxima de nós, sem rótulo ou endereço previamente conhecidos, traz o alerta à percepção do espectador de modo mais concreto, mostrando todo o caminho percorrido pelo produto, de modo como nunca se viu em novela.

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Cristina Padiglione

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