Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Famosos ignoram que estão sendo filmados em Cada Um no Seu Quadrado

“Cada Um no Seu Quadrado”, série que chegou ao Globoplay nesta sexta-feira (3), é uma conversa de bar com amigos, promovida por Fernando Caruso e Paulo Vieira. Como disse Paulo Vieira no episódio de estreia, a diferença entre o que o programa faz e os encontros virtuais que você, espectador anônimo e comum, realiza, é que você não é amigo de gente como Fátima Bernardes, Juliana Paes e outros famosos.

Só na estreia, a dupla de anfitriões juntou Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro Filho, Débora Lamm e Fabúla Nascimento na mesma conversa. O fato de cada um estar no seu quadrado, digo, na sua casa, de fato desarma pessoas habituadas a filtrarem o que dirão em público. Pesa também, no caso deste episódio, a intimidade entre os convidados da sala e as boas chances de um entregar particularidades do outro, de rirem de si e do outro, como se estivessem em mesa de bar mesmo.

Vale beber, falar aqui e ali aquele palavrão (como interjeição, bem entendido, não como sinônimo de grosseria ou xingamento) e debocharem de obsessões ou truques alheios. Eles quase quase se esquecem que uma câmera registra tudo para exibir a prosa em uma plataforma de streaming de grande alcance.

A conversa vira um Seinfeld de vida real, é um papo sobre o nada, desde que os convidados, como no caso deste, não se levem a sério. Não sei como seria um programa que juntasse personagens cuja conversa sempre enverede para algum ativismo ou reflexões profundas, mas desconfio que a proposta seja sempre tentar unir gente interessante que não descambe para discursos de qualquer ordem.

Fabíula Nascimento por exemplo se queixou da frustração de não conseguir fazer um ovo poche decente, “todo dia estrago um ovo e como do jeito que ficou”. Mais adiante, ela exibirá o utensílio que comprou, acreditando que aquilo lhe daria um bom ovo poche, em vão. Paulo Vieira diz que houve um tempo em que queria muito ver o mar, mas agora, morando diante do mar e sem sair de casa, não aguenta mais a paisagem antes cobiçada.

Em entrevista por vidoconferência, o humorista, que tem atualmente um quadro no Fantástico e tem feito uma coisa atrás da outra, confessou, em tom mais sério: “o trabalho vem me salvando. Eu tô trabalhando mais agora que antes. Não tenho família no Rio, moro num apê que é pago pela Globo, então, eu tô aqui no Rio 100% a trabalho. Mas isso vem da minha criação. Meu pai morria de medo de ter um filho preguiçoso, eu acordava às 4h da manhã pra fritar salgado pra vender, sempre foi assim”.

“Tem dia que me dá uma tristezinha, eu quero dar uma parada, mas o trabalho tá me salvando, acho bom que minha semana seja cheia”, diz.

Já Caruso aproveita a pausa no Zorra e a nova série para dar um tempo da faixa presidencial. Intérprete de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, ele emendou um mandato no outro nas noites de sábado, mas acredita, com razão, que seria expulso de uma mesa de bar, caso propusesse ali uma imitação do presidente.

Pergunto se ele não está com saudade de interpretar o Temer, e ele suspira: “Eu já teria até saudade do Mourão”, fala, referindo-se ao vice de Bolsonaro.

Voltando ao quadrado do Cada Um no Seu Quadrado, embora cada um diga o que quer, sem respostas encomendadas, Caruso e Vieira têm um script a seguir, provocando os convidados com brincadeiras como Stop ou dinâmicas de perguntas do tipo “em que reunião você gostaria de estar?”, a fim de, quem sabe, poder ter interferido em algum episódio conhecido.

“O que eles têm é menos um texto e mais um esqueleto de roteiro”, diz Daniela Ocampo, idealizadora da série. “Tem uma narrativa, não necessariamente é um jogo, é uma onda mais dinâmica”, complementa Daniela Gleiser, que assina a direção.

A edição final também foge, com léguas de vantagem, a aparência quase estática das reuniões de zoom que têm se multiplicado por toda parte nesses dias de isolamento e home office.

A série não chega em sistema de maratona -a não ser que o assinante resolva juntar dez episódios para começar a ver, o que perderia parte da temperatura da conversa. Toda sexta-feira tem episódio novo, fazendo jus à conjugação de quem gosta de bradar “sextou” e contemplando nossa carência de rir do nada, no melhor sentido do verbo desopilar.

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Cristina Padiglione

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