Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Reprisada pela 1ª vez, ‘Paraíso Tropical’ fez público torcer por prostituta e rir com vilão

Olavo (Wagner Moura) e Bebel (Camila Pitanga) em 'Paraíso Tropical' / Divulgação

Olavo, e não capitão Nascimento, ambos vividos por Wagner Moura, é o personagem certo para nos consolar neste momento de desesperança. Perverso, sem dor na consciência, o sujeito há de nos lembrar que até para ser vilão é preciso ser divertido, qualidade que falta no atual malvado favorito de quase 30% dos brasileiros.

Mais que isso, a novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares exibida em 2007 e jamais reprisada na TV (nem no Vale a Pena Ver de Novo), teve a façanha de levar um público conservador a torcer pela prostituta da trama. Tudo bem que esse mérito também cabe a Camila Pitanga e ao próprio Olavo, que de tanto tentar negar seu amor pela profissional do sexo, humilhando a criatura, fazia a audiência torcer por ela.

“Eu tenho catiguria”, gostava de dizer a moça, involuntariamente engraçada. A expressão foi ideia de Chico Diaz, o cafetão de Bebel.

Pensando bem, já não sei se essa plateia era de fato tão conservadora. Na eleição mais recente para a presidência, nosso segundo turno foi duelo vencido por Lula contra José Serra, ambos dignos dos “delírios” de quem vê comunismo hoje em qualquer coisa que se oponha ao que aí está.

Naquela ocasião, entre uma cena de Bebel e outra de Marion, a mãe de Olavo, a quem o rapaz puxou, ouvíamos insights de Daniel (Fábio Assunção) sobre os riscos de uberização de todo tipo de trabalhador. A expressão, evidentemente, não existia, mas o assunto vinha à tona sutilmente, nos embates entre ele e Olavo, que cobiçava a presidência da empresa do tio, Antenor (Tony Ramos), que admirava o outro rapaz, de quem não era parente.

Olavo, diretor financeiro da empresa, entrava em conflito com Daniel por causa dos custos da folha de pagamentos, e sugeria terceirização de todo tipo de serviço, para a contestação argumentada do adversário.

Quando é que a gente vai ver um debate sobre isso em uma novela atual (ou de quando as novelas voltarem)? Não há motivos para alimentar expectativas.

Pensando um pouco melhor, andamos um bocado para trás.

Mas nada disso faz parte do enredo central da novela, puxado pelas gêmeas Paula e Taís, papéis de Alessandra Negrini. Assim como em “Um Lugar ao Sol”, próxima novela das nove da Globo, de Lícia Manzo, as gêmeas não sabiam da existência uma da outra. E assim como em “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro, uma era bacana, quase santa imaculada, e a outra, uma peste.

Gilberto Braga pensou em Cláudia Abreu para as duas personagens, e ela chegou a topar, mas acabou abrindo mão do convite porque engravidou.

Da mesma forma, Bebel teve em Mariana Ximenes a primeira opção para os autores, e Olavo então seria Selton Mello, ambos agora curiosamente fazendo par em “Nos Tempos do Imperador”, de Alessandro Marson e Tereza Falcão.

A direção-geral foi de Dennis Carvalho, sempre presente nas novelas de Braga, com José Luiz Villamarim, atual diretor de teledramaturgia da Globo.

Será um prazer rever Bebel e Olavo, alguém capaz de matar uma pessoa como se mata uma barata, e ainda fazer pouco caso do morto, por mais próximo que o cadáver lhe fosse.

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