Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Roberto Carlos fecha ciclo de 16 anos do ‘Programa do Jô’ na Globo

Jô Soares e Roberto Carlos no fim do 'Programa do Jô" na Globo / Crédito: Ramón Vasconcellos/Divulgação

Não importa o que ainda venha pela frente até o fim real do “Programa do Jô”, ao longo desses 16 anos de Globo. Na prática, a última entrevista da carreira do melhor programa dos fins de noite da TV aberta será na próxima sexta, dia 16, tendo Ziraldo como último entrevistado. Em tese, o que passará à história como fechamento da atração na emissora será mesmo a entrevista com Roberto Carlos, exibida nessa sexta, madrugada de sábado, 10 de dezembro, quando entrevistador e entrevistado se derramaram em sinceras lágrimas. Foi como se o fim desse ciclo – e não de Jô Soares, que de alguma forma continuará em cena em 2017 – representasse uma grande despedida.

Amigos desde os idos da Record dos Machado de Carvalho, quando Jô fazia “Família Trapo” e Roberto Carlos, a Jovem Guarda, os dois se permitiram falar sobre amenidades e manias obsessivas, mas, como cabe às figuras com intimidade, pincelaram episódios de relevância histórica nas entrelinhas. Sorte de quem soube captar o que ali se revelou.

Roberto disse que está “preocupado” com “este momento” e que não sabe o que vai fazer sem o programa do amigo, a quem assiste sempre, nos fins de noite. Contou que vê As Meninas do Jô enquanto faz os seus exercícios, “pra ficar bonitinho”. E emocionou Jô mais de uma vez. O ápice foi ao fim da edição, quando Roberto disse que não se levantaria para cantar “Amigo”. “Essa música eu não vou cantar em pé, vou cantar aqui do seu lado, não faz sentido cantar essa música longe de você. Essa música tem que cantar de frente pra ele (disse então voltando-se à plateia), olhando nos olhos, porque essa música tem tudo a ver com ele. Foi feita pro Erasmo Carlos, meu irmãozinho, mas quando eu posso cantar essa música pra amigos queridos como você, pra parentes, como meu irmão…” e engasgou no choro. Em dois segundos, engatou a letra, inacreditavelmente afinado, mesmo sob emoção. Foi o bastante para quebrar as pernas do entrevistador, que se livrou dos óculos e se rendeu também às lágrimas. Ao cantar o trecho “Você que me diz as verdades com frases abertas”, emendou “e você faz muito isso”. Foi qualquer coisa histórica para os dois, ícones da cultura popular brasileira, e portanto, para a própria televisão.

Alvo de um zilhão de controvérsias por ter vetado a publicação de uma biografia sua e de outras informações sobre sua vida em jornais e revistas, o rei contou que está escrevendo uma autobiografia, “mas o filme”, também sob seu aval biográfico, “vai sair antes”.

Repetiu o que disse a Hebe Camargo em sua última entrevista à loira: as melhores coisas da vida são sexo com amor, sexo e sorvete. E admitiu que teve muita inveja dos cabelos de Ronnie Von na era pré-chapinha, quando ele, Roberto, consumia horas fazendo touca e o chamado Príncipe da Jovem Guarda jogava os fios para frente e para trás, sem perder a harmonia da cobiçada cabeleira.

E ouviu, quase acanhado, Jô contar uma passagem que diz muito sobre o profissionalismo do músico. Quando esteve em seu programa no SBT, o “Jô Onze e Meia”, Roberto aceitou o convite de Jô, mas, a poucos dias da gravação, ligou para o amigo e disse que “o Boni (chefão da Globo à época) havia autorizado” verbalmente sua ida ao SBT, mas naquele momento estava ausente, viajando, “e não deixou nada por escrito”. Roberto então achou melhor declinar do convite e não ir à concorrência – o cantor tem contrato de exclusividade com a Globo. “Vai parecer que a gente está forçando a barra”, argumentou a Jô. Jô então lhe disse que não havia problema algum, que eles eram amigos e não havia necessidade de se desculpar ou de se explicar, ele entendia perfeitamente. “Só me faz um favor: todo dia, quando você acordar, se olha no espelho e diz a você mesmo: ‘eu sou o Roberto Carlos'”. Dois  dias depois, Roberto ligou de volta e falou: “Jô, eu vou ao seu programa no SBT”. E o que o fez mudar de ideia, questionou Jô. Ao que o outro entendeu: “eu sou o Roberto Carlos”. Era preciso entender que ele estava acima das miudezas formais de autorizações alheias, por mais profissional que fosse. Era preciso compreender que ele era maior e, como tal, podia seguir vontades que absolutamente não ferem, nem podem, suscetibilidades alheias.

Podem subir os créditos de FIM. O que vier esta semana, é cafezinho. O menu principal já foi servido.

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Cristina Padiglione

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