Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Saída de Faustão da Globo é o fim de uma era de plena autonomia na casa

Fausto Silva em cena / Reprodução

A saída de Fausto Silva da Globo, após 32 anos mandando no domingo, representa o fim de uma era em que os apresentadores da casa tinham autonomia para falar o que quisessem, mesmo quando tocavam em assuntos delicados para a direção da empresa, como posicionamentos políticose não partidários, não vamos confundir.

Faustão foi a Hebe da Globo. Diz o que quer, ao vivo, sem consultas prévias, sempre incomodando alguém do alto escalão. Durante a sua jornada como apresentador de talk show, Jô Soares também fazia isso, inclusive na escolha de seus entrevistados, que não eram submetidos à direção da emissora. Em 2016, a Globo resolveu encerrar o programa dele.

Não que Pedro Bial, Ana Maria Braga, Serginho Groisman e Luciano Huck não tenham liberdade, mas todos trabalham com alguma previsibilidade em seus discursos, sem surpreender a direção da casa.

Fausto faz referências à vontade a amigos e conhecidos de todas as tribos, inclusive da concorrência, citando nomes de diretores e apresentadores do SBT, da Band ou da Record, ou mesmo de proprietários de outras TVs, como é o caso de Johnny e Ricardo Saad, ali mencionados de vez em quando.

Com alguma frequência, surpreende a direção da emissora, até pelo tom incisivo, capaz de fazer as orelhas do mais sonolento telespectador despertar do sofá, propriedade vocal que lhe assegura o posto de melhor vendedor da televisão brasileira, rei do faturamento publicitário por anos a fio.

Os ganhos de Fausto são estimados em R$ 5 milhões mensais, somando salário e merchandisings, e isso é só o que vai para a conta do apresentador. É justamente o fôlego financeiro que garantiu ao mais bem pago apresentador da TV brasileira, mesmo após tantas transformações ocorridas na emissora nos últimos dez anos, um microfone aberto, ao vivo, por três horas no horário mais nobre do fim de semana, por 30 anos.

No ano passado, por causa da pandemia, o programa foi reduzido em uma hora, antecipando o Fantástico. Desde então, tem sido gravado, sem previsão de retomar suas edições ao vivo.

O colunista Flávio Ricco, hoje no R7, noticiou o fato em primeira mão nesta segunda-feira (25): Fausto Silva deixa a Globo no fim do ano. A decisão veio após reuniões com Ricardo Waddington, novo diretor de entretenimento da emissora, e Carlos Henrique Schroder, ainda diretor de conteúdo dos canais Globo, cargo que deixará em março. A emissora avisou ao apresentador que tem novos planos para o domingo a partir de 2022, sem lhe assegurar futuro no Domingão. Foi-lhe oferecida uma vaga nas noites de quinta-feira, com liberdade para a criação de um programa pensado por ele e pela casa.

O apresentador não aceitou e preferiu se desligar da empresa. “Prefiro cumprir minha história na Globo. Foram 32 anos de liderança absoluta e 100% de liderança. A Globo faturou bastante comigo”, disse o apresentador a Daniel Castro, no site Notícias da TV.

Resta saber onde a Globo vai arrumar um projeto que lhe assegure o faturamento que o Domingão, com este apresentador, alcança hoje. Além de ser, para vários anunciantes, uma opção prioritária na venda de produtos ali anunciados, Fausto Silva tem, como figura física, uma ótima relação com agências e representantes do meio publicitário.

Em 1989, quando estreou na Globo, Faustão deu início a uma etapa até então inédita para a Globo aos domingos: a emissora, já líder inconteste de audiência havia quase duas décadas, ainda era derrotada por Silvio Santos nesse dia da semana. O quadro foi logo revertido e a liderança se estabeleceu por completo.

Nos anos 1990 até início da primeira década de 2000, a disputa era com Gugu Liberato (1959-2019), motivando duelos que envolviam os maiores ídolos do mercado fonográfico (quem ia a um programa era automaticamente desprezado pelo outro) e pautas bizarras, como o Latininho (1996) e o Sushi Erótico (1997).

Foram pecados bem menores que a farsa do PCC armada pelo programa do SBT (2003), que resultou em uma inédita punição, à época, da suspensão de uma edição do Domingo Legal, além de uma longa investigação na esfera judicial.

De toda forma, as patinadas daquele tempo valeram para endossar que o alcance da Globo e o tal padrão de qualidade lá estabelecido provocam choque muito maior quando a cena descamba para a bizarrice. Competições como a Dança dos Famosos, o Ding-Dong e depois o Show dos Famosos, têm ocupado o palco com louvor nesse milênio, sem nada, nos demais canais abertos ou fechados, que faça frente ao Domingão.

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Cristina Padiglione

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