Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

SBT, 40 anos: 20 cenas da história da TV mais feliz do Brasil

Silvio ri da própria videocassetada no 'Topa Tudo Por Dinheiro'. Foto: João Batista da Silva/Divulgação

O SBT se autointitula a “TV mais feliz do Brasil”. E é. Na condição de jornalsta que se ocupa de cobrir assuntos relacionados à produção do conteúdo televisivo, tive a oportunidade de frequentar as sedes de todas as redes de TV do país ao longo dos últimos 30 anos, e no SBT, estive em condições extra-visitante, chegando a trabalhar na emissora.

Por mais que se critique a postura imediatista de Silvio Santos, que interfere com frequência na programação e muitas vezes faz desandar o hábito do telespectador, nenhum outro dono de TV é mais amado por seus funcionários do que ele.

Percorrer os corredores e estúdios do SBT é sempre uma diversão. Há leveza no ambiente. Encontra-se figuras lendárias do showbiz. Tropeça-se em cenários míticos, como roletas gigantes, cabines e outras parafernálias de games. É um parque de diversões.

Esse clima era vigente mesmo nos tempos da Vila Guilherme, nos estúdios que a emissora aproveitou da  TV Excelsior, antiga inquilina do imóvel da família Caldeira, do Teatro Silvio Santos, no Carandiru, onde cobri muitos programas da querida Hebe Camargo, e das ex-dependências da Tupi, no Sumaré.

Neste dia em que o SBT completa quatro décadas no ar, elenco aqui 20 episódios que fazem parte da história da rede de Silvio Santos, nos bastidores ou diante das câmeras, a maioria, envolvendo o prório Senor Abravanel, motor das melhores histórias da TV. Vamos a eles:

 

  • Sempre muito cioso da necessidade de se comunicar com o público da forma mais direta possível, Silvio Santos já dava preferência a títulos óbvios muito antes de o Google indicar essa estratégia para alcançar cliques na internet. E reza a lenda que Robero Manzoni, ex-diretor de programação e muito disposto a agradar o patrão, teria sugerido que o filme “Ben-Hur” fosse traduzido como “O Charreteiro do Rei”, em um tempo em que os estúdios não inteferiam decisivamente nas mudanças promovidas pelas emissoras.
  • O mesmo Manzoni contou no documentário produzido por Leonor Corrêa para os 85 anos de Silvio Santos (a ser reprisado hoje, aliás) que toda a diretoria do SBT desaconselhou a compra do seriado Chaves. Só Silvio deu o contra e resolveu apostar na aquisição da produção mexicana. Deu no que deu. “Chaves” ficou no ar por  36 anos, e só não está mais em cena no SBT por causa da rediscussão dos direitos autorais sobre a obra de Roberto Bolaños por seus herdeiros.
  • Em uma das demissões em massa que a empresa se viu obrigada a realizar em momento de aperto no caixa, dispensaram o manobrista que pegava o carro de Silvio Santos na porta do Teatro Silvio Santos, no bairro do Carandiru, zona norte de São Paulo. Ao chegar ao local, uma rua quase sempre engarrafada por causa do movimento gerado pela chegada do público do auditório e artistas, Silvio perguntou: “Cadê o fulano?” “Fulano foi demitido, infelizmente, seu Silvio”, lhe responderam. O patrão avisou então que não gravaria enquanto não trouxessem o funcionário de volta. E foi embora.
  • De hábitos simples, Silvio tem o hábito de fritar o próprio bife no seu camarim, nos intervalos de almoço de suas gravações.
  • Silvio Santos sempre conversa com as colegas de auditório antes de iniciar as gravações, um aquecimento que pode durar até dez minutos, sendo um animador também longe das câmeras.
  • Durante o sequestro de Patrícia Abravanel, a imprensa deu plantões na frente da casa de Silvio Santos, culminando com o dia em que o dono do SBT virou refém dentro da própria mansão, acuado pelo sequestrador Fernando Dutra Pinto, que pulou um muro da propriedade. Além da preocupação de se livrar do criminoso, o empresário ficou apreensivo com a possibilidade de os jornalistas descobrirem que bem na casa ao lado, recém-comprada por ele, uma grande obra preparava o espaço para abrigar a futura e sigilosa “Casa dos Artistas”, o primeiro reality show de confinamento do Brasil.
  • Ao ouvir falar do sucesso do “Big Brother”, nascido na Holanda, Silvio recorreu a um holandês que dava aulas de inglês à secretária de Celso Portiolli, que encomendou à mãe o envio de algumas fitas em VHS, gravadas do videocassete, para apresentar ao patrão. Ele mesmo providenciou legendas em português para as imagens originais. Este profissional tornou-se depois o executivo que o SBT enviava às feiras internacionais de conteúdo de TV para garimpar possíveis novos formatos e ideias para a programação.
  • É verdade que dois grandes executivos do SBT em 2001, Alfonso Aurin e José Roberto Maluf, tomaram conhecimento de toda a engenharia do “Big Brother”, então propriedade da Endemol (hoje chamada como Endemol Shine), e foram a Amsterdã, sede da produtora, para finalmente assinar o contrato. Por telefone, Silvio pediu que eles rasgassem o acordo e voltassem para o Brasil sem fazer negócio. E montou a “Casa dos Artistas” na sequência.
  • “A Casa dos Artistas” foi um retumbante sucesso em sua primeira edição, mas começou a tropeçar na segunda temporada, quando Silvio resolveu alterar as regras do programa no decorrer do jogo e foi abandonado pelo público. A seguir, o reality também se mostraria inviável em razão do processo judicial movido pela Globo e pela Endemol por plágio.
  • Contratada pelo SBT nos anos 1990 pelo prazo de um ano para determinada produção, Marília Pêra assinou o acordo, mas o projeto que ela faria foi então cancelado. A atriz passou um ano recebendo salário sem ser aproveitada na programação. Sônia Braga também assinou contrato para fazer uma novela, “Antonio Alves, Taxista”, ao lado de Fábio Jr., mas desistiu ao ver o texto e brigou para deixar a emissora.
  • Nos idos da Vila Guilherme, rua Dona Santa Veloso, onde o SBT realizava seus telejornais, infantis e Programa Livre, a emissora enfrentou vária enchentes nos corredores que levavam aos estúdios. Houve até cenas de gente transportada em barquinhos mostradas pelos telejornais da casa.
  • Ao trocar o jornalismo impresso pelo telejornalismo, em 1988, Boris Casoy acreditou que os princípios do ofício não se alteram e que portanto, não enfrentaria estranhamento na adaptação ao novo veículo. Mas já considerou estar diante de um cenário bem diferente ao dar de cara com o Bozo e a Vovó Mafalda naqueles bastidores.
  • Silvio gosta de brincar de contrariar ordens e faz isso com frequência. Ao receber a banda Rouge para uma apresentação no palco, foi avisado que não deveria pedir a música “Ragatanga”, já que a cantora que havia gravado o hit havia deixado o grupo e não estaria presente. Na primeira oportunidade, no entanto, ele jogou para o auditório: “Vocês querem ‘Ragatanga’?” É claro que a plateia gritou “siiiiim”.
  • Avesso a badalações, Silvio era chamado por Hebe de “Cinderela”, pois quando aparecia a algum jantar ou celebração noturna, sempre saía à francesa antes de dar meia-noite.
  • Acompanhado de Gugu Liberato, Silvio Santos foi pessoalmente ao Rio para pedir a Roberto Marinho que rasgasse o contrato assinado com seu discípulo para que ele se transferisse para a Globo. Após conversar com Boni, chefão da Globo na época, Silvio foi encaminhado à sala de Roberto Marinho, com quem conversou a sós. E pediu a Gugu, que havia comprado as passagens de ida e volta dos dois ao Rio, que voltasse para o aeroporto e o esperasse lá. Sem dinheiro para o táxi, e na época não tínhamos Uber nem pagamento por cartão, Gugu recebeu um trocado de Boni para voltar ao Santos Dumont. Esse episódio é contado em detalhes, por Gugu e Boni, no documentário de Leonor Corrêa sobre o empresário.
  • O SBT também contratou três autores de novelas da Globo para colocar em pé o plano de duelar com a líder em audiência no ramo de teledramaturgia: Walther Negrão, Glória Perez e Benedito Ruy Barbosa. Mas então foi a Globo que lutou para anular o acordo, tendo, no entanto, gastado milhões para rescindir os contratos já assinados.
  • Silvio Santos contratou Boni pouco depois de ele deixar a Globo, no final dos anos 1990, mas o descontratou no mesmo dia.
  • Dizia Luciano Callegari, quando comandava o SBT, que a emissora não deveria imitar a Globo, mas sim procurar o seu próprio caminho, ou corria o risco de parecer uma “Globo mal feita”. O SBT de fato encontrou outras vias para se mostrar uma emissora competitiva, ainda que este post denuncie um passado tão mais glorioso que o presente, vá lá.
  • O SBT já foi a casa de Hebe Camargo, Gil Gomes, Ana Paula Padrão, Marília Gabriela, Lillian Witte Fibe, Boris Casoy, Jô Soares, Serginho Groisman, Moacyr Franco, Marcelo Médici, Roni Cócegas, Irene Ravache, Nilton Travesso, Luciano Callegari, Del Rangel, Gugu Liberato, Pedro de Lara, Miéle, Aracy de Almeida, Carlos Nascimento, Monica Waldvogel, Ana Paula Arósio, Tarcísio Filho, Supla, Bárbara Paz, Othon Bastos, Débora Bloch, Juca de Oliveira, Luciana Braga, Eduardo Moscovis, Caio Blat, Wagner Santisteban, Larissa Manoela, Maisa Silva, Ronald Golias, Nair Bello, Wagner Montes, Joana Fomm, Elizângela, João Vitti, Angélica, Alexandre Frota, André Gonçalves, Fábio Júnior, Walter Avancini, Paloma Duarte, Edson Celulari, Ney Latorraca, Adriana Esteves, Marco Ricca, Denise Fraga, Osmar Prado e Cesar Tralli, entre outros tantos.
  • A ESPN Brasil é inquilina de Silvio Santos no bairro do Sumaré, em São Paulo, onde a televisão nasceu no Brasil, ainda em 1950, pelas mãos de Assis Chateaubriand, de quem Silvio Santos herdou a concessão e o endereço da TV Tupi. O quarteirão também abrigou a vanguardista MTV Brasil gerida pelo Grupo Abril, com estúdios onde Marcelo Adnet, Tatá Werneck e Dani Calabresa deram seus primeiros passos rumo à fama.

 

 

 

 

 

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Cristina Padiglione

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