Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

SBT finalmente suspende gravações de novela

Sophia Valverde é Poliana na novela do SBT/Divulgação

Não é porque novela infantil não depende de beijos lascivos que o expediente pode ser diferente do que vem sendo adotado na Globo neste momento de contenção de um vírus de alto potencial de contágio.

Só nesta terça-feira, após decisões da concorrência de suspender as gravações de novelas e séries, além de alguns programas, por causa do coronavírus, o SBT decidiu interromper o set de “As Aventuras de Poliana”, único folhetim inédito no ar pela emissora.

Como a novela tem ampla frente de gravações, é possível que ela nem chegue a ser interrompida. O SBT tem material inédito para manter a trama no ar até agosto e já deveria ter tomado tal atitude.

No máximo, a emissora terá de prolongar o contrato de parte do elenco para estender o planejamento de gravações e, sim, ter lá a parte que lhe cabe nesse prejuízo, termo já assimilado por todos. Fora os fabricantes de álcool em gel e sabão, todo mundo está perdendo seu quinhão nessa crise de saúde.

Os programas de auditório no SBT já tinham sido avisados que as edições serão feitas sem plateia por tempo indeterminado. São agora programas de auditório sem auditório, como aconteceu com Faustão no domingo (15).

Um caso excepcional na Globo é o Altas Horas, que não será feito nem com plateia vazia. O título se manterá no ar em edições de melhores momentos, aproveitando seu aniversário de 20 anos. É que a atração de Serginho Groisman não é um programa DE auditório, mas sim COM auditório, como o apresentador já disse. A plateia, ali, é parte do programa, e não faria sentido manter o palco sem o público. Convém reparar como a iluminação sobre convidados e artistas é igual à da plateia, justamente por esse conceito.

Voltando ao SBT, vamos celebrar o fato de a direção da empresa ter mais consciência que alguns de seus contratados. Na segunda-feira (16), o tal Marcão do Povo levou ao pé da letra a disposição do dono da empresa, Silvio Santos, em apoiar o presidente Jair Bolsonaro, e disse, no Fofocalizando, que havia uma “histeria” por causa do coronavírus, termo já usado pelo presidente na véspera, sob o mesmo contexto.

Além de ter sido contratado pelo SBT após ser acusado de racismo na Record, num episódio que lhe rende um processo movido pela cantora Ludmilla, Marcão deixa de honrar o apelido que lhe serve de sobrenome, ao menosprezar justamente o povo, carente dos alertas em torno do coronavírus, como fez Bolsonaro no domingo, em entrevista à nova CNN Brasil.

Ratinho também se entusiasmou em defender Bolsonaro na noite de segunda-feira (16), no mesmo SBT, vociferando que o presidente foi “eleito democraticamente pela maioria” e tem de ser “respeitado”. Ora, se isso, por si só, fosse premissa para permanecer no cargo, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff nunca teriam sido ejetados da cadeira. Mais: se nem criticado ele puder ser, esqueçamos as cobranças a Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Michel Temer e mesmo a José Sarney, e voltemos aos tempos da ditadura, quando era proibido questionar presidente.

Carlos Massa ficou bravo porque Bolsonaro foi criticado ao sair daquela que deveria ser uma quarentena para abraçar populares e fazer selfie com celulares alheios, depois de ter estado com (até agora 14) pessoas infectadas pelo coronavírus. E como se fosse o povo, e não ele a oferecer riscos, ainda disse que se ele se infectar “é problema meu”.

Que Jair demore a compreender o que se passa, é triste, mas não exatamente uma surpresa. Mas um comunicador tem de fazer jus à compreensão sobre sua vocação para comunicar de modo eficaz. Oxalá Ratinho volte a fazer bom uso de seu talento.

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Cristina Padiglione

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