Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Sem pirotecnia, ‘Pais de Primeira’ leva espectador das lágrimas às gargalhadas

George Sauma, Renata Gaspar e o bebê: comoção com diversão / Reprodução

Que me perdoem aqueles que não são pais, para quem a nova série da Globo, “Pais de Primeira”, mostra-se um produto de entretenimento de qualidade. Texto, direção, atuação, figurinos, cenários, edição, trilha sonora, nada falta e nada sobra: tudo está na medida certa. Alinhavando cada ponto, há, evidentemente, de modo soberano, um enredo de inevitável comoção para ganhar a atenção da plateia: a chegada de uma nova criatura ao mundo.

Mas quem já passou ou está passando por uma primeira gravidez, primeiro parto, primeira fralda, primeiro banho de bebê, além de se divertir com as emoções trazidas pela vinda de um filho, é capaz de gargalhar histericamente e chorar desmedidamente pela simples identificação que o enredo gera nesse espectador, o que falo com conhecimento de causa.

Para começo de conversa, temos um casal do tipo gente-como-a-gente, inclusive no aspecto físico. Renata Gaspar e George Sauma dispensam o estereótipo de passarela de moda que muito tempo ditou as regras na TV. São “normais”, sem bíceps marombados, sem cabelos chapeados, sem make up fotoshopado. Isso já nos aproxima dessas adoráveis figuras – veja só, acabo de conhecê-los e já gosto tanto deles, que sensação estranha, essa!

O humor está nas situações vividas pelos personagens, não requer caretas nem histrionices dos atores, e é de se notar como eles assimilam com perfeição essa medida, no tom e tempo (o dito “timing”) ideal para valorizar o texto.

No caso dela, a grávida que não tem paz nem para fazer xixi, vigiada por marido, sogros, pai, irmã e cunhado, a contenção gestual e vocal tem ainda mais precisão – nos dois sentidos da palavra.

Some a isso o contraste com o barrigão, a dor na lombar, o choro compulsivo e toda uma série de agruras que só as gestantes e seus parceiros conhecem de perto. Sim, há genialidade na gravidez, contrariando a percepção de que as grávidas, de tão aguçado teor animal que a cria nos propicia, mal conseguem pensar.

Menos é mais.

Os exageros ficam, de novo, para as situações criadas em cena, como a chegada ao hospital a bordo do caminhão de som de uma manifestação que impedia o acesso do casal à maternidade. Mas quem nunca desafiou o Waze aí, que atire a primeira pedra.

De Antonio Prata, cronista da Folha, escrita com Thiago Dottori, Chico Mattoso e Bruna Paixão, a série tem direção de Luiz Henrique Rios e se permite brincar com referências da TV.

Helena, nome sugerido pelo pai, é apontado pela mãe como “Manoel Carlos”, autor que batiza todas as suas protagonistas como Helena.

Em dado momento, ela desaba a chorar de desespero, por constatar que a gravidez pode até trazer uma felicidade incrível, quando a bebê nascer, mas é um perrengue danado de que ninguém fala, que lota a gente de hormônios e indisposições.  “Eu não choro, você sabe. Não choro com ‘Ghost’, não chorei nem quando a Carminha jogou a Nina criança no lixão”, diz ela, numa citação sobre a novela “Avenida Brasil”, que tinha Prata na equipe de roteiristas.

“Pais de Primeira” leva o espectador das lágrimas às gargalhadas.

E a Globo ainda faturou com oportuna propaganda de fraldas no primeiro intervalo, uma única propaganda – foi quase um merchandising. Nada como divertir a plateia e pagar a conta, sem precisar da verba publicitária do governo, né não?

 

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