Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Silvio Santos, 90 anos de história: vamos sorrir e cantar

Silvio Santos em três etapas. Fotos: Divulgação

No dia em que completa 90 anos de vida, Silvio Santos merece ser lembrado por suas qualidade, mas também pelos defeitos que no seu caso só endossam as qualidades;

Embora tenha ganhado a concessão da TVS, que viria a se tornar o SBT, graças à simpatia da ex-primeira dama Dulce Figueiredo, aí está um empresário de mídia que fez muito mau uso de seu poder de comunicação. Dizer que alguém do tamanho dele não se utiliza de seu poder de comunicação para expandir territórios e poder é um elogio à integridade moral do nosso aniversariante, mas, ao mesmo tempo, implica também uma subserviência que não faz bem ao negócio.

Em 62 anos de televisão, desde que começou a alugar horário na TV Paulista, Canal 5, que viria a se tornar a Globo, Silvio nunca ficou tanto tempo sem fazer um único aceno inédito ao seu público, como comentamos eu e Maurício Stycer, colunista do UOL, em conversa transmitida pela editora Todavia, nas redes sociais, no último dia 1º. Stycer é autor do livro “Topa Tudo Por Dinheiro”, um retrato bem traçado do empresário e animador que há quase seis décadas arrasta multidões para a frente da TV.

A seguir, enumeramos algumas dezenas de curiosidades do Homem do Baú.

  • Bom vendedor, Silvio levou para a TV toda a lábia de camelô que o fez chegar até ali e a degraus bem mais altos no decorrer de sua existência.
  • Foi paraquedista do Exército.
  • Teve bar na barca Rio-Niterói.
  • Foi apelidado de Seu Peru por Manoel da Nóbrega e Ronald Golias, pois ficava ruborizado quando falava com o público nas caravanas que conduzia com artistas em shows pelo interior do país,
  • Escondeu dos fãs sua primeira mulher, Aparecida, a Cidinha, com quem teve as filhas Cynthia e Silvia, a fim de preservar a imagem de homem solteiro que eventualmente contribuía com a força junto ao público feminino.
  • Enfrentou uma tentativa de separação da mulher, Iris, com direito a audiência no Fórum de Santo Amaro. Na saída, sorriu para os repórteres e disse: “Eu tenho certeza que ela vai voltar pra mim porque eu amo ela”.
  • Reconquistou Iris com celebração em show da banda Gipsy Kings, no extinto Olympia.
  • É conhecido por transformar especialistas de outras áreas em dirigentes do SBT.
  • Tem o hábito de fritar bifes no seu camarim, no SBT.
  • Bancou a bajulatória A Semana do Presidente, que anunciava as ações do presidente da República pela voz de seu fiel locutor, Lombardi (1940-2009), desde o governo João Figueiredo, quando ganhou a concessão, até meados do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, em 2000.
  • Recebeu os presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro em seu programa.
  • Dono de um humor que beira o sarcasmo, não perdeu a capacidade de fazer piadas nem durante os tensos dias em que a filha Patrícia permaneceu sequestrada.
  • Não hesitou em atender ao pedido do sequestrador da filha, Fernando Dutra Pinto, que invadiu sua casa após o fim do sequestro e pediu a presença do então governador Geraldo Alckmin ao local.
  • No dia seguinte, dirigindo o seu carro, como faz normalmente, para o SBT, ouviu um locutor da Rádio Jovem Pan criticar Alckmin e acusá-lo de ter aberto um precedente ruim ao atender ao pedido do sequestrador. Silvio não teve dúvida: ligou para a Pan, rádio que ouve e da qual é fã, pessoalmente, e avisou ao locutor que ele só estava vivo, naquele momento, porque o governador atendeu à sua solicitação.
  • Além da Pan, Silvio também se derrete especialmente pela Revista Caras e não se omitiu, recentemente, ao fazer propaganda de graça para a Netflix, que o presenteou com uma assinatura.
  • Em 2003, atendeu à repórter Ana Carolina Soares, então da revista Contigo!, no telefone, e garantiu que estava com uma doença grave, tendo poucos dias de vida. Como isso afetou até anunciantes do SBT, ele acabou vindo a público para desmentir e esclarecer que tudo não passava de uma brincadeira.
  • Adora dizer aos repórteres que não dá entrevistas porque uma cigana lhe assegurou que no dia em que ele fizer isso, receberá sua morte.
  • Fez suspense até a véspera sobre sua presença no desfile que o homenageou no Carnaval do Rio, em 2001, pela escola de samba Tradição, onde enfim compareceu.
  • Costuma ouvir os conselhos que seu cabeleireiro de longa data, Jassa, lhe dá sobre a programação do SBT. Muita gente brinca que Jassa é o verdadeiro diretor de programação do SBT.
  • Em razão da vice-liderança de sua emissora, comprou várias brigas com o Ibope por suspeitas a respeito das pesquisas de audiência. E chegou a patrocinar a criação de um novo instituto, o Data-Nexus, que mostrava números muito próximos do Ibope e não foi adiante.
  • Naquele que foi certamente o maior passo de sua vida, candidatou-se à presidência da República perto do fim do tenso pleito de 1989, o primeiro após 29 anos sem eleições diretas para o cargo, pelo partido PMB. O TSE impugnou a candidatura porque ela já se apresentava fora do prazo, mas a simples entrada do empresário no jogo bagunçou o andamento das intenções de voto da ocasião.
  • Mesmo visto como mal informado, gosta de fazer perguntas primárias aos seus convidados para que o seu telespectador se sinta à vontade e identificado com ele. Nunca pretende parecer que sabe mais que o seu público.
  • Ameaçou comprar os direitos do Big Brother e enviou executivos a Amsterdã, sede da produtora Endemol em 2001, tendo desistido após ter tido acesso a todas as cartilhas do programa, que ele lançaria com sutis mudanças.
  • Nasceu assim A Casa dos Artistas, em 2001, com famosos no lugar de anônimos. Sem aviso prévio, o programa derrotou o Fantástico no primeiro domingo em que entrou no ar e foi sucesso incontestável. A Globo, que após a desistência do SBT comprou o Big Brother, processou o SBT por plágio, juntamente com a produtora Endemol.
  • Durante o desenvolvimento da produção da Casa dos Artistas, Silvio conseguiu manter sigilo ao usar a casa vizinha à sua como cenário, sem que essa movimentação ficasse exposta aos funcionários do SBT.
  • No dia em que o sequestrador Fernando Dutra Pinto pulou o muro de sua mansão para fazer toda a família de Silvio de refém, a imprensa compareceu em peso à fachada de seu endereço, sem se dar conta de que a casa vizinha abrigava um projeto tão sigiloso. E um dos medos de Senor Abravanel era que aquele monte de jornalistas descobrisse algo sobre A Casa dos Artistas durante a vigília que envolveu o sequestro de Patrícia e depois, a invasão da casa pelo sequestrador.
  • Silvio colecionou outros desafetos na Justiça por acusação de plágio e direitos autorais, inclusive com Arquimedes Messina, autor do mais famoso jingle de abertura de seu programa, o mesmo que inspira o título deste post. Brigou por anos na Justiça para reconhecer os direitos do compositor. O “Show do Milhão”, grande sucesso de seu programa, foi outro caso que lhe rendeu longas batalhas nos tribunais.
  • Silvio tem mais quatro filhas do casamento do Íris, e muito antes de Jair Bolsonaro, já chamava suas herdeiras por números.
  • Judeu, o empresário nunca se opôs ou fez restrições à religião da mulher e das filhas, todas evangélicas, mas jamais abriu mão de suas origens religiosas.
  • Judeu, o empresário não só convive bem com a religião diferente das filhas e da mulher, como abre espaço no SBT para o catolicismo, como se viu na adaptação da novela mexicana “Carinha de Anjo”.
  • Encantado pela Flórida, Silvio dispõe de uma casa de férias em Celebration, em Orlando, onde passa as férias de seu recesso de fim de no, que normalmente vai até março.
  • Nunca na história de Silvio Santos na TV, e lá se vão 60 anos desde o “Vamos Brincar de Forca”, na TV Paulista, ele ficou tanto tempo sem aparecer em cenas inéditas.
  • Na época em que se descobriu uma fraude no Banco Panamericano, de sua propriedade, disse que nem sabia onde ficava o banco e confiava nos executivos que tocavam o negócio. “Eu não sou banqueiro, sou animador”, disse aos juízes que o ouviram sobre o caso. Outra: ““Eu sei lá, você pergunta pra polícia, eu não sou policial”, disse ele ao responder quem seria responsável pela fraude.
  • Pouco antes da fraude que determinou a venda do banco, Silvio disse aos executivos do SBT, em uma reunião, que eles deveriam se inspirar nos lucros do Panamericano, que lhe davam muito mais dividendos do que a TV.
  • Nos anos 1960, Silvio defendeu Roberto Carlos de acusações feitas em um programa de entretenimento, Quem Tem Medo da Verdade, como se fosse seu advogado. Era brincadeirinha, mas o animador lançou argumentos sólidos para fazer o seu papel.
  • Sem a devida percepção das políticas de correção sobre machismo e racismo estrutural, Silvio continua fiel ao universo onde cresceu e apareceu, tropeçando vez ou outra em atitudes que não geravam controvérsia até dez anos atrás. Foi o caso do episódio em que elogiou a beleza de Claudia Leitte em uma edição do Teleton, e da tentativa de sugerir que Maisa Silva deveria arrumar um namorado, sob o risco de ficar para titia. Isso sem falar no concurso de beleza com menores, exibido no ano passado.
  • Silvio é centralizador nas decisões do SBT. É famoso por mudar decisões de seus diretores e mexer freneticamente em uma programação que depende de hábito. Seus executivos não estão livres disso nem quando ele sai de férias.
  • Quando começou a usar o famoso microfone, escalou um funcionário só para tomar conta do aparelho. O rapaz até levava o objeto para sua casa e era totalmente responsável por aquilo. Mas houve uma vez em que saiu com amigos e deixou o microfone no Fusca. O aparelho foi roubado, e o sujeito ficou tão nervoso que perdeu a fala. Silvio foi visitá-lo no hospital, disse que ele era aguardado para a volta ao trabalho, mas que iria cobrir os custos do mimo furtado.
  • Silvio preparou toda a contratação de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, logo após sua saída da Globo, em 1997, e também desistiu do negócio na última hora.
  • Silvio foi pessoalmente à Globo e pediu para falar diretamente com Roberto Marinho para reverter a contratação de Gugu pela rede carioca. Conseguiu.
  • Mas também cedeu uma contratada sua à Globo para protagonizar uma minissérie. Era Ana Paula Arósio, que ainda era do SBT quando gravou “Hilda Furacão”. A então modelo recebera as primeiras aulas de interpretação graças a um investimento do SBT, que lançou seu nome como atriz.
  • Exótico, o animador coleciona estátuas de cera no mezanino que abriga toda a diretoria do SBT, tendo alguns nus.
  • E há, é claro, um repertório de marchinhas de Carnaval há tempos gravadas por ele.
  • Por fim, não existe figura televisiva mais imitada que ele, reprodução que se restringe à caricatura, já que ninguém chega perto de seu poder de comunicação com a massa. De Tom Cavalcante a Marcelo Adnet, passando por Wellington Muniz, o Ceará, Silvio Santos é ritmo de festa, como diz a música.

 

Nesse 12 de dezembro, os nossos parabéns ao seu Silvio, com quem eu tive o prazer de estar em várias edições do Troféu Imprensa, no Jogo das Três Pistas e em um inesquecível jantar na casa da Hebe, jantar para o qual ele não ficou, como já contei aqui.

Parabéns, Senor!

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Cristina Padiglione

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