Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Solidão de Hélio Bicudo reflete Fla-Flu político em nova série da HBO

Hélio Bicudo: isolamento após o pedido de impeachment de Dilma

É no quarto episódio de “Outros Tempos – Velhos”, nova série do canal MAX, com produção da Pródigo Filmes, que está Hélio Bicudo, 93 anos, um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores), que surpreendeu a todos, e principalmente os mais próximos, ao pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A produção captou o depoimento de Bicudo antes que Michel Temer subisse ao posto da presidência da República, ainda durante o processo de pré-impeachment, quando boa parte de seus amigos lhe viraram as costas. Ao longo dos dias de gravação com Bicudo, a produção da série pode notar o isolamento sofrido pelo ex-petista, que sofreu não só com o rompimento de amigos, mas dos próprios filhos, criados sob a crença no partido. Bicudo relata que eles deixaram de visitá-lo e, na esteira, também a mãe, que enfrenta o Mal de Alzheimer.

Compondo o quarto episódio com Bicudo está Alfredo Jacinto Melo, que  largou o escritório para se dedicar à única paixão duradoura – o samba. Com todos os contrastes exibidos entre eles no modo de vida, os dois têm em comum a paixão pela vida e pela justiça, sob o aspecto humanista.

A série será aberta com uma das maiores referências da moda no Brasil, Regina Guerreiro, e a anônima Lidia Serrano, figura encantadora: uma sem laços familiares, a outra, sustentada essencialmente por família. Ali estão duas formas absolutamente opostas de referências da velhice. Regina fala sobre o poder o glamour que marcou sua carreira, assume-se elitista, sem paciência para qualquer conversa e para almoços de família, convicta da solidão que escolheu para si. Lamenta apenas que todo o sucesso alcançado em sua atividade tenha inibido sua vontade de escrever. Lídia, ao contrário, interrompeu uma carreira artística para se dedicar à família, não se arrepende, mas guarda lá suas mágoas.

O segundo episódio traz Hermeto Pascoal e Fernando Penteado, um disciplinado senhor de 102 anos. Os dois não poderiam ser mais diferentes: um é a personificação da ordem, o outro parece ser o caos em si.

No terceiro episódio da série, envelhecer parece combinar com a figura da Monja Cohen, a “monja pop”. Já José Virgolino, morador da ilha do Araújo, em Paraty, no Rio de Janeiro, também é muito popular entre pescadores e nativos que o elegeram como líder espiritual e afetivo. Trata-se de um episódio unido pela sabedoria.

No quinto episódio, temos Tânia Alves (foto), atriz que não envelhece, e Maria do Jongo, de 94 anos. Tânia, que deixou os holofotes para trás, apegou-se a um modo de vida que inclui muita pesquisa sobre alimentação, terapias alternativas e outras formas de “retardar o envelhecimento”. Já Maria nunca praticou atividades físicas e adora uma boa feijoada.

O sexto episódio traz Ney Matogrosso, acima clicado, outro personagem que mobilizou as atenções do diretor, Eduardo Rajabally. “É curioso notar como ele faz da liberdade seu mote de vida e é tão ousado, em meio a tanta disciplina”. As sequências gravadas com o cantor incluem uma captação em seu camarim, antes e durante um show, com as rápidas trocas de figurino que ele exibe no palco. Divide o episódio com a história de Valério Taddei, homem que simboliza a figura do patriarca, representante da terceira geração de uma alfaiataria italiana que garantiu o sustento de sua família. A edição revela, ao longo da narrativa, o que une esses dois personagens.

O penúltimo episódio traz a fotógrafa inglesa Maureen Bisilliat, naturalizada brasileira, e que tem seu trabalho cultuado no mundo inteiro. Mas suas relações pessoais pagaram um preço proporcional ao êxito profissional. Já Samir El Hayek veio do Líbano para o Brasil com apenas 2 anos de idade, acompanhado de parte da família. Seu apreço pela religião muçulmana o fez estudar e traduzir o Alcorão, e todo ano ele traduz pelo menos dois livros sobre a cultura muçulmana para a língua portuguesa. Presente no debate após a exibição do primeiro episódio da série, na Casa do Saber, Samir saudou a liberdade de pensamento que rege o Brasil, em contraposição com o Líbano. Aqui, ele ganhou prestígio, dinheiro e amigos, mas nunca se sentiu completo.

Duas minorias são retratadas no episódio final da série. Negro, pobre, artista e homossexual, Emanoel Araújo deixou Santo Amaro da Purificação, na Bahia, para se lançar ao mundo das artes. Tornou-se um dos grandes artistas plásticos do país, depois curador, até montar e dirigir o cultuado Museu Afro Brasil. Já Vilma Nishi descende de  orientais e guarda com carinho a cultura nipônica em sua rotina de parteira. Entre jantares com artistas e inaugurações disputadas, Emanoel parece viver em uma dura solidão, enquanto Vilma se vale do tato feminino e da herança oriental para honrar a idade sem baixar o olhar.

Confira os conceitos dos diretores e do roteirista, entrevistados pelo TelePadi após a exibição do episódio de estreia na Casa do Saber.

“Outros Tempos – Velhos” estreia em 4 de julho e anuncia episódios inéditos sempre às terças, às 23h.

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Cristina Padiglione

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