Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Tempo de Amar’, enfim uma novela moderna, em que a mocinha troca de par

Maria Vitória começou a novela com um, de quem engravidou primeiro, e termina a novela grávida de outro: viva a opção da heroína

Meu colega Nilson Xavier, com muito mais propriedade que eu, já disse tudo sobre “Tempo de Amar”, novela de Alcides Nogueira (o Tide), com direção de Jayme Monjardim, que terminou nesta segunda, coberta de méritos.

Gostaria apenas de acrescentar que uma novela em que a mocinha troca de par ao longo da história é de um progresso sem tamanho.

Maria Vitória começou a história com Inácio, ambos os personagens lançando os atores Vitória Strada e Bruno Cabrerizo. Nas primeiras semanas da trama, o grande conflito da história é o amor impossível entre os dois.

Vários fatores afastam o casal durante a maior parte do enredo, mas você, habituado à fatalidade dos folhetins, que condenam a mocinha a se apaixonar por um homem só, ainda mais tendo tido uma filha com ele, fica à espera do reencontro desse casal até o último minuto do último capítulo.

Faz tempo que Maria Vitória encontrou outro par, o doce, compreensível e adorável Vicente (Bruno Ferrari). É um sujeito tão bom, mas tão bacana, tão incrível, que, como dizia uma senhora que trabalhou aqui em casa, não existe (Dona Djanira dizia isso sobre aquele Atílio, que o Antonio Fagundes fazia em “Por Amor”: “prefiro nem ver essa novela porque aquele homem não existe”).

É admirável a habilidade de Alcides Nogueira em conduzir a torcida para que Maria Vitória fique com Vicente, e não mais com Inácio, que comeu o pão que o diabo amassou e engravidou a moça, sem saber em tempo de ajudá-la naquele momento. Mas o autor alcança esse estágio. É muito pouco provável que naqueles anos 30 encontrássemos, para a mesma mulher, dois homens tão civilizados e afáveis, a ponto de se respeitarem um ao outro como ex e atual marido. De toda forma, como estamos consumindo essa história hoje e não no fim dos anos 20, parece-nos encantador o desfecho da mocinha.

Em outros tempos, talvez tivessem matado Vicente para que a heroína enfim pudesse fazer uma escolha única. E não é que o Tide bancou a troca, algo raríssimo até em novelas contemporâneas? Quem nunca reparou que o mocinho, em quase toda novela, sempre tem pelo menos três mulheres interessadas nele, e com quem ele muitas vezes se envolve, ao passo em que a mocinha só pode ter conflito entre dois homens, no máximo, escolhendo invariavelmente aquele que lhe era prometido desde o começo da novela?

Assim, registremos aqui que “Tempo de Amar” inovou na libertação da heroína, e teve a pachorra de fazer isso perto de 1930. A cena final entre Maria Vitória e Vicente, com aquele casal ocupando o espaço verde no meio ao nada, com uma robusta árvore de folhas amarelas a lhes fazer sombra, foi de um ficcionismo épico, que poderia soar falso, não fosse a emoção carregada dos dois atores para o desfecho, que, claro, anuncia a gravidez dela para o marido da vez.

Ponto para autor e diretor. Viva a mocinha dos anos 30, mais emancipada que a mocinha contemporânea do Tocantins, vista na novela das 9.

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Cristina Padiglione

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