Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Tiago Leifert chegou reservado a um ‘BBB’ de cenário gélido

Tiago Leifert foi dando boa noite como se pertencesse ao mundo BBB desde sempre.

E o mundo BBB voltou ao ao ar com cara de Os Jetsons, animação dos anos 80 que superestimava a tecnologia do ano 2000. O QG do novo mestre de cerimônias é gélido em nível de nave espacial, criando um ambiente nada convidativo. É muita tecnologia para alguém tão só.

Do lado de cá da tela, o gigantismo do espaço só torna maior a sensação de solidão do apresentador, que interage com a sala de casa por meio de um telão vertical que o faz maior, de corpo inteiro, mas evidencia a condição de quem não tem com quem conversar atrás daquela tela toda.

Tiago Leifert e o novo telão do BBB

Tiago Leifert e o novo telão do BBB

Tiago é mais afável que aquilo. Pode mais no quesito empatia e simpatia. Vamos atribuir a secura dessa estreia ao modo nervoso de alguém que jamais parece nervoso diante das câmeras.

Permitiu-se um único aviso sobre sua condição de debutante, ao perguntar para os gêmeos que entraram na casa: “primeira vez de vocês aqui? Minha também”.

Mas foi rápido ao imitar o gêmeo Manoel no vício de linguagem que faz do “tipo assim” uma muleta, ao conversar com ele no mesmo idioma.

Apresentou Rafael Cortez, agora oficialmente tratado como “Rafa”, que passa a lhe fazer companhia nos ecos das redes sociais. E não é que o Rafa foi mais Rafael Cortez do que o Tiago foi Tiago Leifert?

Para arrematar, Boninho,o big boss, mata saudade do programa de bonecos que fundou após a saída de Xuxa das manhãs da Globo, entre 1993 e 1997 (quem não se lembra do “TV Colosso”?). Lá está uma plateia de bonecos, agora não mais de cachorros, representando a Família Silva. Pelo que foi possível entender, são eles que darão voz aos embates sobre quem está certou ou errado.

Família Silva, bonecos que remetem ao passado do diretor Boninho e sua 'TV Colosso'

Família Silva, bonecos que remetem ao passado do diretor Boninho e sua ‘TV Colosso’

De quebra, Os Silva representam a grande massa que adora odiar o BBB, sempre alegando que não vê o programa, embora tudo saiba a respeito da casa.

Ah, a casa. Uma profusão de cores ainda mais fortes que antes promete deixar os participantes zonzos antes do primeiro drink. Não é possível que aquilo tudo seja obra de decorador, apenas e tão somente. Penso que o psicólogo de plantão ajudou a corroborar a tese de que um cenário tão multicolor conspira a favor do cansaço do ser humano, exaurindo a paciência de seus inquilinos. Afinal, quanto maior a intolerância, maior o conflito e a audiência.

E Leifert, quase constrangido, obedece à indicação do texto que informa a grande homenagem prestada pelo BBB a cidades como Paraty. Pobre Paraty. Quem lá nunca esteve é capaz de imaginar que alguma coisa aproxima o BBB da cidade histórica, só pelo fato de alguns elementos presentes no município fluminense, como os delicados azulejos, estarem ali, quase imperceptíveis, diga-se, pelas molduras e colunas mais kitchs que se possa imaginar.

Não, aquilo não chega nem perto do que pode vir a ser Paraty, mesmo depois de uma invasão de discípulos do Romero Britto à cidade. Aquilo é Curicica na veia, cidade cenográfica sem pudor de ser cenográfica e sem vergonha de ser vigiada por muitas câmeras.

Sorria, você está sendo filmado.

 

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Cristina Padiglione

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