Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Um Lugar ao Sol’ atualiza conceito de bom gosto para cena de sexo em novela

Gabriel Leone e Andréa Beltrão em cena de 'Um Lugar ao Sol' / Reprodução

Atenta a temas que merecem ser assimilados e debatidos pela massa, “Um Lugar ao Sol”, folhetim de Lícia Manzo com direção de Maurício Farias, dedicou precioso espaço no capítulo desta quinta-feira (6) a atualizar o conceito de bom gosto (e utilidade pública, ouso dizer) para uma cena de sexo em novela das nove da Globo, ou seja, uma sequência a ser consumida pela massa, no auge de sua delicadeza e de sua beleza, sem ofender a família brasileira e disposta a honrar o ato que colocou todos nós neste mundo.

Para tanto, convém não se contentar com o que se passa na cama em questão –ou no chão, nem é possível saber onde o casal trança suas pernas.

A autora é hábil em escrever toda uma sequência anterior em que uma mulher, na grandeza de seus 50 anos, tem sua autoestima fragilizada por padrões de beleza que ela própria ajudou a pavimentar ao longo de uma bem-sucedida carreira de modelo.

Após o marido escroto (por favor, Rebeca, larga esse sujeito) sugerir que sua linda esposa pode recorrer a avançados recursos estéticos ou até mesmo a uma plástica para sanar seu bem-estar com o espelho, ela se abala a ponto de buscar um consultório médico onde um renomado cirurgião lhe explica as vantagens de reabastecer o colágeno por meio de um procedimento que há de congelar a flacidez do rosto por dois anos.

Lembremos que estamos a falar de Andréa Beltrão, 58, explêndida.

Rebeca (Andréa Beltrão)  / Reprodução GloboPlay

Corta para o flashback em que Felipe, personagem que nos põe diante de Gabriel Leone, queridinho desejado por 11 entre dez espectadores, diz que gosta dela como ela é. E aí cabe muito perguntar quem é Túlio (Daniel Dantas) na fila desse pão? Abandona o marido agora, Rebeca, a audiência implora!

Mas, diferentemente do que escrevi na versão original deste texto, há, sim, uma mulher no comando do set, e já me desculpo pela omissão. A sequência foi dirigida por Clara Kutner, que merece todos os créditos pelo resultado.

Kutner faz parte da equipe de Maurício Farias, diretor-artístico do folhetim e marido da atriz em cena. Dono de um olhar mais feminino que o de algumas mulheres que ocupam este mesmo posto, Farias procura se cercar de profissionais com quem já compartilhou boas experiências em obras anteriores. E vem trabalhando com sua equipe, desde “Cidade Proibida” e “Hebe”, o conceito de filmar cenas de sexo que primem pela elegância, sem que percam o erotismo e a sedução necessários a essas ocasiões.

De tanto nos habituarmos a ver relações filmadas pela ótica masculina, ainda há diretoras (a minoria, felizmente) que têm dificuldade em contemplar um enredo que leve ao orgasmo feminino. Clara escapa com louvor dessa cilada.

Embora nós, mulheres, sejamos maioria nos dados demográficos e na audiência televisiva, raras foram as ocasiões em que a TV foi capaz de entregar a esse público majoritário de novelas uma sequência de sexo tão sedutora quanto a do capítulo em questão.

Há closes de mãos, quadris, costas, um descabelar de fios que obstrui um olho aqui, uma boca ali, em cenas entrecortadas por breves falas dela. Ele apenas consente. E segue o baile, para deleite da plateia, que há de aguardar o capítulo desta sexta (7) para saciar a curiosidade da sequência inacabada, sob o testemunho de uma grande torcida.

 

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