TV Cultura empossa comando feminino inédito

A Fundação Padre Anchieta (FPA) inaugurou nesta sexta-feira, 13, a primeira gestão de uma mulher à frente de sua presidência, posto responsável pelas rádios Cultura e pela TV Cultura, a mais bem-sucedida TV pública nacional.
Maria Angela de Jesus tomou posse do cargo, recebido diretamente de José Roberto Maluf, quebrando também e hegemonia branca dos ocupantes daquela cadeira ao longo de mais de cinco décadas.
É um feito a ser muito comemorado. Maria Angela está ali por mérito absoluto, e não por qualquer reparação histórica a mulheres ou negros. Nome fundamental na fase áurea da HBO – período em que o conceito “padrão HBO” superou o “padrão Globo”, como ouvi de alguns diretores de TV à época -, a nova presidente da FPA teve seus créditos estampados na concepção de séries primorosas, como “Filhos do Carnaval”, “Mandrake”, “Psi” e do programa GregNews, com Gregório Duvivier. Naquele tempo, tudo o que a HBO realizava no Brasil tinha Maria Angela e Roberto Rios como interlocutores com as produtoras independentes responsáveis por cada título.

Maria Angela de Jesus com Gregório Duvivier e Roberto Rios
Após a HBO, Maria Angela ocupou postos de comando na Netflix e na Paramount+. Foi responsável pelo desenvolvimento de títulos como “Bom Dia, Verônica”, “Coisa Mais Linda” e “Reality Z”, e liderou as equipes internas das séries “Irmandade” e “Sintonia”.
Na Paramount+ no Brasil, foi chefe de Produção de Conteúdo, tendo trabalhado na obra infantil “Marcelo, Marmelo, Martelo” e na série Anderson Spider Silva, pela qual também foi indicada ao Emmy Internacional. No final do ano passado, tornou-se produtora executiva associada à Conspiração Filmes.
TV COM GENTE DE TV
Embora seja gerida por um Conselho composto por representantes de diferentes segmentos, a TV Cultura é sustentada majoritariamente pelos cofres do governo do Estado de São Paulo, o que de alguma forma mantém sua gestão sob o humor do ocupante do Palácio dos Bandeirantes – neste momento, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Como já testemunhei em diferentes administrações, a liberdade do presidente da Fundação Padre Anchieta é mais dependente da vontade do governador da vez do que do estatuto da fundação em si, mas o ponto primordial dessa relação parte da escolha do profissional que comandará o barco. A eleição do presidente da Fundação se dá pelo voto dos conselheiros, mas os indicados ao cargo normalmente passam pelo crivo do governador do Estado.
Vi mais de um presidente da FPA ser alçado ao posto por mera condição de ser de confiança do governador em exercício, sem entender nada de televisão. É conhecido o episódio do chefão da Cultura que certa vez confundiu personagem do “Cocoricó”, infantil de sucesso da TV Cultura, com figura da “Vila Sésamo”, demonstrando completo desconhecimento sobre o foco de seu trabalho.
Por isso, celebrei muito, por exemplo, quando João Doria indicou o nome de José Roberto Maluf para a cadeira. Com larga experiência em TV aberta, Maluf exibiu êxito em suas passagens pela alta diretoria do SBT e da Band. Entende do riscado e fez uma grande gestão na TV Cultura, dentro das restrições financeiras impostas à emissora, passando o bastão a Maria Angela após dois mandatos consecutivos.
E também por isso celebro agora a presença de Maria Angela no posto. O desafio de entregar bons produtos sob rigoroso controle de gastos determinado pelo Palácio dos Bandeirantes é quase uma ginacana. Mas aí está alguém que também domina a indústria do audiovisual e conhece como poucos os muitos recursos viáveis para exibir resultados.
AS SUPERPODEROSAS
Para coroar a presença de Maria Angela na presidência da Fundação Padre Anchieta, tereremos uma figura igualmente aplaudível na presidência do Conselho: Neca Setúbal, foco de imenso respeito de instituições sociais de alta reputação, como sabemos.
Maria Angela terá ainda como vice-presidente outra craque em TV: Beth Carmona, profunda conhecedora do funcionamento da TV Cultura, de onde foi diretora de programação por 12 anos, com atuação sobre títulos como “Castelo Rá-Tim-Bum” e “O Mundo da Lua”. Fundadora e presidente da ONG Midiativa, Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes (www.midiativa.tv) e diretora da plataforma comKids (www.comkids.com.br), Beth realiza há 14 anos o Festival comKids e há 5 anos o Festival de Filmes de Ciências – SFF_Br.

A diretora Beth Carmona, especialista em conteúdo audiovisual infantil
É ela quem vai gerenciar a programação e a área de produção da TV Cultura.
À frente da presidência da Fundação Padre Anchieta, Maria Angela de Jesus administra, a partir desta data, a TV Cultura, as rádios Cultura Brasil e FM, o canal pago TV Rá Tim Bum, o canal Univesp TV, a Orquestra Brasil Jazz Sinfônica e o Solar Fábio Prado (antigo Museu da Casa Brasileira, em um mandato de três anos, entre junho de 2025 e junho de 2028, com oportunidade de ser reeleita para um segundo mandato de três anos.
Temos nas figuras de Maria Angela, Beth Carmona e Neca Setúbal um trio de SuperPoderosas muito promissor para a TV pública, oxalá!