Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Pablo e Luisão’ é a melhor comédia que você verá nesses tempos em que o riso parece tão reprimido

Paulo Vieira cercado pelo primoroso elenco de 'Pablo e Luisão' / Foto: Léo Rosario/Divulgação

Quantas histórias da sua família você teria para apresentar diante de uma plateia disposta a rir? Depende, evidentemente, dos episódios a contar e, muito importante, da sua capacidade em narrar cada um. Mas depende, sobretudo, do talento de rir de si: esse é o ponto que mais distancia a grande maioria da humanidade de um humorista talentoso como Paulo Vieira, criador da série “Pablo e Luisão”.

Título que chegou ao GloboPlay há um mês, mas já divertia os seguidores de seu idealizador no antigo Twitter, a produção descreve as roubadas que o pai dele, Luisão, coleciona ao lado do amigo Pablo, impactando a resiliente mãe de Paulo, dona Conceição, e o irmão dele, Neto, na periferia de Palmas, no Tocantins.

Sem querer transformar esse texto numa luta de classes, sejamos honestos: é óbvio que uma família pobre carece de muito mais humor para rir das mazelas que a vida lhe apresenta do que um clã abastado. Só quem busca meios de sustento mais bem-sucedidos entra em ciladas que prometem grana a curto prazo, o que rende boa parte das histórias da série.

“Pablo e Luisão” é a prova de que é possível produzir humor para a massa sem tropeçar nos riscos da cartilha politicamente correta ou da polarização política, que em tese abraçaria só medate da audiência de um país dividido na hora de votar. Oxalá o título chegue logo ao alcance da TV aberta, ainda que não seja este ano, como parece ser o caso da programação já definida para a grade de 2025.

Se a estratégia for seduzir novos assianantes para o GloboPlay, já vale a espera (e o pagante ainda há de se deparar com outra pérola que desembarcou na plataforma esses dias, mas na vertente do drama, sobre a qual logo falarei: “Guerreiros do Sol”).

Voltando ao foco, “Pablo e Luisão” desperta no espectador tamanha indignação sobre o que ali é contado, que você vai assistindo e duvidando de tudo, pensando que não é possível que aquilo realmente tenha acontecido. Mas, ao final de cada capítulo o elenco real daquelas histórias, ou seja, a mãe, o pai e o próprio Pablo relembram, em tom de conversa de quintal, como se deu tudo o que acabou de ser dramatizado no plano ficcional.

A gargalhada de Paulo, sabemos agora, é quase um plágio da mãe, Coneceição.

Além da competência, o elenco profissional se assemelha fisicamente ao cast que o inspirou, da caracterização ao tom de fala de cada um. Dira Paes, como Ceição, Ailton Graça, como Luisão, e Otávio Muller, como Pablo, são de uma felicidade rara na arte da escalação de atores. E ainda tem os meninos, Yves Miguel (Paulo) e João Pedro Martins (Neto), mais Wilson Rabelo, o Seu Justino, e uma robusta lista de participações especiais, incluindo Miguel Falabella, Marcelo Adnet, Grace Gianoukas, Karine Teles, Lima Duarte, Welder Rodrigues e Clarissa Pinheiro, entre outros.

Convém ainda sublinhar as precisas intervenções de Paulo, figura fundamental na graça que tudo aquilo exibe, que do nada surge diante das câmeras para contextualizar várias cenas. Dos planos de filmagem à montagem final, com diálogos afiados e prontos para gerar identificação com o público, tudo funciona perfeitamente para abraçar o espectador a partir de enredos que transbordam afeto e riso.

“Pablo e Luisão” reverencia com elegância elementos marcantes do repertório brasileiro, como o filme “Dois Filhos de Francisco” e a visita do Papa Francisco ao Rio. O próprio sucesso desfrutado hoje por Paulo Vieira merece uma sequência divertida quando Luisão debocha do filho ao dizer que “ele acha que vai fazer sucesso, que vai trabalhar na Globo“. E não é que foi mesmo?

Com texto de Bia Braune, Caíto Mainier, Nathalia Cruz e Patrick Sonata, a série tem redaão final do próprio Paulo Vieira e de Maurício Rizzo, nome que esteve nos créditos de roteiro e elenco do saudoso “Tá no Ar”. A direção é de João Gomez, com direção artística de Luis Felipe Sá. E cada um dos 16 episódios desta temporada – que, espera-se, seja seguida de outras -, vem a locução clássica que anuncia “Baseada em Fatos Reais”.

Melhor impossível.

 

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Cristina Padiglione

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