Pelo amor dos meus filhinhos: Silvio Luiz tinha o humor que cabia em campo
De uns anos para cá, talvez mal influenciada pelas redes sociais e sites de humor, a televisão resolveu tentar fazer graça com tudo. Daí ir salpicando piadas muitas vezes sem sentido na cobertura esportiva e colocando alguns profissionais em situações constrangedoras. Na ânsia de transformar esporte em entretenimento, em detrimento da informação, muitas empreitadas nesse terreno desandaram.
Mas o Silvio Luiz já era engraçado sem exatamente ter o propósito de o ser. Quase involuntariamente, fazia rir com os bordões criados ao longo de tantas narrações. E, melhor: não prescindia da informação para encontrar o riso do telespectador.
Silvio saiu de cena quase no mesmo grupo onde começou: a Record. É que foi a TV Paulista, inaugurada um ano antes da Record, que revelou suas qualidades como repórter de campo, mas foi na Record de Paulo Machado de Carvalho que ele, ex-árbitro de futebol, começou a fazer história como o profissional que viria a ser.
E não é que suas últimas performances foram também pela Record, mas então de Edir Macedo, no final do Campeonato Paulista deste ano? Silvio compunha a equipe de transmissões e comentários da web, não à toa, com dois humoristas.
Em 1956, ainda como repórter, fez parte da primeira transmissão esportiva interestadual da TV brasileira, entre Record e TV Rio. No mesmo ano, ainda com ele na reportagem, Record e TV Rio transmitiram simultaneamente, para São Paulo e Rio de Janeiro, um jogo da Seleção Brasileira de Futebol. Foi uma revolução. Quem hoje vê tudo em tempo real pelo celular não pode imaginar a parafernália envolvida num processo como esse, na época.
Foi também ator. Sim! Em 1958, atuou em duas novelas: na primeira versão de “Éramos Seis”, e “Cela da Morte”. Depois, atuou pela TV Excelcior, retornando para a Record em 1968, como jurado do programa “Quem Tem Medo da Verdade?”, que submetia celebridades como Roberto Carlos a um julgamento baseado em seu histórico de vida.
Em 1971, Silvio voltou a trabalhar no esporte, como apresentador e narrador. Em 1976, virou diretor de programação da Record e também passou a ser o principal locutor esportivo da casa, após a morte de Geraldo José de Almeida.
Em um período em que imperava o tom da voz engomada, de uma locução cheia de empáfia, Silvio introduziu o humor, a descontração e a ironia à narração esportiva. Quebrou paradigmas, como se diz. E consagrou bordões como “Pelas barbas do profeta”, “Pelo amor dos meus filhinhos”, “Olho no lance”, “Balançou o capim no fundo do gol”, “Vai mandar lá no meio do pagode”, “agora é fechar o caixão e beijar a viúva”, entre tantas outras.
Sabia como fazer graça sem perder o gol ou a infração cometida em campo. E pelo estilo nada perecível de enxergar crônica onde corria a bola, estava certo de que a compreensão do público seria alcançada. Acertou.