Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Pelo amor dos meus filhinhos: Silvio Luiz tinha o humor que cabia em campo

De uns anos para cá, talvez mal influenciada pelas redes sociais e sites de humor, a televisão resolveu tentar fazer graça com tudo. Daí ir salpicando piadas muitas vezes sem sentido na cobertura esportiva e colocando alguns profissionais em situações constrangedoras. Na ânsia de transformar esporte em entretenimento, em detrimento da informação, muitas empreitadas nesse terreno desandaram.

Mas o Silvio Luiz já era engraçado sem exatamente ter o propósito de o ser. Quase involuntariamente, fazia rir com os bordões criados ao longo de tantas narrações. E, melhor: não prescindia da informação para encontrar o riso do telespectador.

Silvio saiu de cena quase no mesmo grupo onde começou: a Record. É que foi a TV Paulista, inaugurada um ano antes da Record, que revelou suas qualidades como repórter de campo, mas foi na Record de Paulo Machado de Carvalho que ele, ex-árbitro de futebol, começou a fazer história como o profissional que viria a ser.

E não é que suas últimas performances foram também pela Record, mas então de Edir Macedo, no final do Campeonato Paulista deste ano? Silvio compunha a equipe de transmissões e comentários da web, não à toa, com dois humoristas.

Em 1956, ainda como repórter, fez parte da primeira transmissão esportiva interestadual da TV brasileira, entre Record e TV Rio. No mesmo ano, ainda com ele na reportagem, Record e TV Rio transmitiram simultaneamente, para São Paulo e Rio de Janeiro, um jogo da Seleção Brasileira de Futebol. Foi uma revolução. Quem hoje vê tudo em tempo real pelo celular não pode imaginar a parafernália envolvida num processo como esse, na época. 

Foi também ator. Sim! Em 1958, atuou em duas novelas: na primeira versão de “Éramos Seis”, e “Cela da Morte”. Depois, atuou pela TV Excelcior, retornando para a Record em 1968, como jurado do programa “Quem Tem Medo da Verdade?”, que submetia celebridades como Roberto Carlos a um julgamento baseado em seu histórico de vida.

Silvio Luiz, então como repórter de campo, em transmissão da Record nos anos 1950, em imagem do livro ‘Ninguém Faz Sucesso Sozinho’, de Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta

Em 1971, Silvio voltou a trabalhar no esporte, como apresentador e narrador. Em 1976, virou diretor de programação da Record e também passou a ser o principal locutor esportivo da casa, após a morte de Geraldo José de Almeida.

Em um período em que imperava o tom da voz engomada, de uma locução cheia de empáfia, Silvio introduziu o humor, a descontração e a ironia à narração esportiva. Quebrou paradigmas, como se diz. E consagrou bordões como “Pelas barbas do profeta”, “Pelo amor dos meus filhinhos”, “Olho no lance”, “Balançou o capim no fundo do gol”, “Vai mandar lá no meio do pagode”, “agora é fechar o caixão e beijar a viúva”, entre tantas outras.

Sabia como fazer graça sem perder o gol ou a infração cometida em campo. E pelo estilo nada perecível de enxergar crônica onde corria a bola, estava certo de que a compreensão do público seria alcançada. Acertou.

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Cristina Padiglione

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