Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Roberto Manzoni, o ‘Magrão’, era um entusiasta da TV popular. E se divertia com o ofício

Manzoni, até o fim conhecido como 'Magrão', ao lado de Celso Portioli. Foto: Lourival Ribeiro/SBT

Morreu nesta sexta-feira (10), aos 74 anos, o diretor de TV Roberto Manzoni, vulgo Magrão, alguém que valia a conversa e o conhecimento sobre o veículo mais popular do país.

Quando o conheci, nos anos 1990, ele já não era magro, mas o apelido prevaleceu até o fim.

Dono de um raro feeling televisivo para imprimir o gosto popular ao conteúdo do que era produzido na TV, fez história no Domingo Legal de Gugu Liberato, pelo SBT, mas, como bem observou Hélio Vargas (hoje diretor do Domingão com Huck) em post no Facebook, já estava na firma de Silvio Santos muito tempo antes.

Tinha um discurso escrachado que fazia dele uma figura folclórica e amada. Hoje, certamente teria seus modos questionados pelo enquadramento comportamental exigido pelo mundo corporativo politicamente correto – mesmo com as concessões que ainda cabem à indústria do audiovisual, normalmente ambientada sob premissas mais permissivas, em nome da criatividade.

Magrão protagonizou, no backstage, o período de maior rivalidade entre Gugu e Faustão pela audiêncdia nas tardes de domingo. Em tempos de sólida liderança da Globo, era na sua faixa que o SBT mais se aproximava dos índices do plim-plim, às vezes até atropelando a concorrência.

Na época, eu e mais dois ou três colegas costumávamos fazer plantão na sede da emissora, graças ao empenho de Anamaria Lattes, então responsável pela assessoria de imprensa do SBT, que nos oferecia um monitor ligado ao Ibope em tempo real. Era como dar doce a crianças. Constatávamos assim, a olho nu, sem intermediários, a gangorra ostentada por Gugu e Faustão: quem ganhava, quem perdia, quem performava bem enquanto estava no ar, e quais eram os ídolos sertanejos, do axé, do humor ou do futebol capazes de atrair ou derrubar o zapping.

Era uma dança de números minuto a minuto que sequer nos permitia piscar. Adrenalina para repórteres de TV, nitroglicerina para os diretores que comandavam aquele circo. A crônica televisiva se animava especialmente com as frases e a falta de filtro de Magrão, que dizia que seu adversário, Alberto Luchetti, responsável pelo Domingão do Faustão, nada sabia de TV: “Ele conhece TV sabe de onde? Das Casas Bahia”, bradava.

Nos primórdios do SBT, ainda dita TVS, consta que Magrão sugeriu à direção da emissora, em uma reunião, batizar o clássico “Ben-Hur” com o título “O Charreteiro do Rei”. A história virou anedota ao longo de todos esses anos, mas há quem jure que aconteceu de fato.

HISTÓRICO

Manzoni chegou à TV no final da década de 60, quando tornou-se operador de VT na TV Excelsior, e logo migrou para a sede paulista da TV Globo na Rua das Palmeiras, em São Paulo, onde Silvio Santos comandava seu programa. O apelido de Magrão veio daquele tempo: “era uma fase de muito trabalho e pouco tempo pra me alimentar, então, todo mundo que se referia a mim dizia: olha, fala com aquele magrão lá do VT… e o apelido pegou!”, contava ele.

Chegou ao convívio com Silvio Santos como coordenador de edição de programas da Marca Filmes, empresa comercial do Grupo Silvio Santos, e na Publicidade Silvio Santos, produtora que realizava o Programa Silvio Santos então para a Globo e a Tupi. Logo tornou-se produtor e diretor de programas, tendo dirigido os primeiros anos do Domingo no Parque, o segmento infantil do programa de SS.

No final da década de 70, assumiu a direção de programação da TVS Rio, canal 11 do Rio de Janeiro.

Foi em 1987 que se iniciou sua parceria com Gugu, que duraria mais de 15 anos. Deu nova cara ao Viva a Noite, comandou o Super Paradão, o Sabadão Sertanejo, o Paradão e o Domingo Legal, com todas as disputas de sabonete a que a Banheira do Gugu tinha direito.

Fez história ao lado de Gugu / Divulgação

Sorte do acaso, havia se afastado do programa pouco antes de a atração sofrer seu pior momento, quando uma farsa com falsos membros do PCC foi montada em nome da audiência.

Em 2007, após um breve período fora, Magrão voltou ao SBT para uma nova versão de Viva a Noite. No ano seguinte, foi convidado por Silvio Santos para repaginar o programa do patrão, e retornou em 2009 para o Domingo Legal, então já com Celso Portiolli.

De tanto divertir os colegas nos bastidores, Magrão ganhou um programa para chamar de seu, e virou apresentador durante um período na TV Gazeta. Passou ainda pela Band e deixou no rastro de suas obras o que muitos chamam de “Escola Magrão” no modo de fazer TV.

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Cristina Padiglione

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