Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Demissão de Manoel Soares divide opiniões: ‘Uma derrota para todos nós’, diz Paulo Vieira

A saída de Manoel Soares da Globo, ainda que tenha sido motivada por queixas no deparatamento de Compliance –onde assédio e maus tratos são relatados para investigar injustiças no ambiente de trabalho–, está longe de parecer um consenso ou de inibir manifestações públicas de apoio a ele.

Pelo Twitter, rede social onde tem grande interação com o público, o humorista e diretor Paulo Vieira escreveu:

“A saída de Manoel Soares representa uma derrota para todos nós”.

Vieira, que luta pela diversidade nas telas e por trás delas, nunca foi de bajular gratuitamente a empresa na qual trabalha, e normalmente tem suas manifestações bem aceitas pela casa, até por trafegarem no campo do riso, o que torna tudo mais aceitável. Mas neste caso, muito mais que uma possível defesa a Soares, o humorista expressa a derrota de ver fechar um espaço de destaque aberto a duras penas a um negro.

A Globo nunca antes tinha tido um apresentador preto em um programa diário. Teve Taís Araújo em temporadas de atrações semanais, o mesmo valendo para Lázaro Ramos, dois nomes hoje consagrados, que também percorreram longo caminho até alcançarem as conquistas atuais.

Soares significava mais um nome de um elenco em franca ascenção no número de representantes, mas ainda longe de se equilibrar à branquitude que domina os holofotes.

Pelo Instagram, onde manifestou seu agradecimento à Globo e esclareceu que saía sem ressentimentos, ele recebeu apoio de outros profissionais da emissora, com destaque para um diretor da alta cúpula –Boninho–, além de nomes como Ana Furtado, Lázaro Ramos, Pathy Dejesus, Isabel Fillardis, Bruno Gagliasso, Cacau Protásio, Luana Xavier, Astrid Fontenelle, Susana Vieira, Drica Moraes e o próprio João Vicente, que o substituirá no comando do Papo de Segunda, pelo GNT, entre muitos outros, como o ativista AD Júnior, voz respeitada no ativismo negro.

Embora cogitada há alguns meses, a saída de Manoel Soares da Globo pegou de surpresa a maioria das pessoas, incluindo ele próprio, porque se buscava outra alternativa. Há coisa de dez dias, conversamos sobre tais especulações, e ele me negou veementemente qualquer clima ruim nos bastidores. Quando expus acusações do compliance da Globo contra ele, eu mesma ponderei que isso talvez fosse

que por vezes nos levam a confundir a altivez de um negro com empáfia e arrogância, de tão acostumados que estamos à subserviência dos descendentes de escravizados.

Ele concordou, e não estendemos o assunto. Ao longos dos últimos meses, ouvi de vários funcionários da Globo São Paulo que ele não se integrava à equipe como faz Patrícia Poeta, que ele mal interagia com produtores e roteiristas, a peãozada do backstage, e que pesavam contra ele queixas de assédio moral. Que era, enfim, o contrário do que vemos diante das câmeras.

Após investigações internas, a Globo considerou que deveria dispensá-lo. Convém observar que o comunicado sobre a sua saída não contém os usuais agradecimentos pelos serviços prestados. Tampouco ele, em vídeo postado no Instagram, faz qualquer sinal de denúncia contra a emissora, apenas salpicando que só tem a agradecer à empresa. E se o problema todo fosse uma questão pontual com sua parceira de programa, Patrícia Poeta, ele poderia ter ficado apenas no Papo de Segunda, do GNT. Mas não foi assim.

Os desdobramentos desse episódio certamente virão à tona.

Veja aqui o vídeo de Soares no Instagram

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Cristina Padiglione

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