‘Vale Tudo’: Renato Filippelli homenageia profissional que levou ‘Escrava Isaura’ ao mundo

Personagem agora vivido por João Vicente de Castro, Renato Filippelli foi assim batizado pelo autor Gilberto Braga em homenagem a José Roberto Filippelli, o primeiro profissional de vendas internacionais da Globo.
Convém lembrar que Gilberto adaptou para a TV o romance “Escrava Isaura” (1976), que por anos a fio liderou o ranking de exportações da Globo. As negociações mundo afora, em especial na Europa e Ásia, são feitos encabeçados pelo verdadeiro Filippelli.
Publicitário, o Filippelli de verdade falou sobre o tributo com que foi agraciado em “Vale Tudo”, em 1988, em seu livro, “A Melhor Televisão do Mundo”, lançado pela Editora Terceiro Nome em 2021. A publicação, aliás, é um excelente documento histórico no resgate ao contexto que levou a Globo a abrir as portas da Europa, Oceania, África e Ásia para o audiovisual brasileiro, por meio da telenovela.

Lucélia Santos, nos áureos dias de sucesso de ‘Escrava Isaura’, ao lado de José Roberto Filippelli / Acervo pessoal
O mundo era outro. Os contratos não protegiam os criadores das obras, até porque aquele comércio de obras era algo ainda muito insipiente, ainda mais para a indústria brasileira de TV. Certa vez perguntei a Gilberto Braga se ele havia recebido da Globo tudo o que deveria em função das vendas de “Escrava Isaura”. “Eu assinei um mau contrato”, resumiu ele, emendando que a emissora havia feito um acordo com ele: a Globo lhe pagou uma boa quantia, completou, sem informar o valor.
ONTEM E HOJE
Como quase tudo na releitura de Manuela Dias, o Filippelli de hoje nada tem a ver com o de ontem – a não ser a ideia de um jornalista/publicitário charmoso. O personagem original foi interpretado por Adriano Reys e, como lembrou o querido Nilson Xavier, expert no assunto telenovela, em nenhum momento ele se envolveu com Heleninha – então vivida por Renata Sorrah.
A herdeira dos Roitman se ajeitava no final da trama com William, sujeito que trazia à cena Dennis Carvalho, então diretor artístico da novela, em participação especial. Essa figura já não existe na novela atual, e como o Filippelli da vez estava sobrando, digamos assim, a autora não titubeou em unir os dois amigos.
“Vale Tudo”, a releitura de Manu Dias, fecha seu ciclo nesta sexta-feira, dia 17, respondendo mais uma vez à engajadora pergunta: “quem matou Odete Roitman?” De minha parte, estou mais curiosa para ver se alguém novamente dará uma banana para o Brasil, em sinal de dane-se tudo, como fez Marco Aurélio (Reginaldo Faria) no original de 88. Seria uma escolha coerente com o andamento da versão atual.
Em tempo: José Roberto Filippelli nos deixou no início deste ano, em janeiro, antes de conferir a performance de João Vicente no remix de “Vale Tudo”.
O recorde de exportação de “Escrava Isaura” foi superado por “Terra Nostra” (1999), de Benedito Ruy Barbosa, e depois por “Avenida Brasil” (2012), de João Emanuel Carneiro, que chegou a mais de 130 países. Mas no espectro de novelas brasileiras, (e portanto sem considerar o cinema que projetou Sônia Braga, Alice Braga e recentemente, Fernanda Torres) Lucélia Santos segue sendo a atriz brasileira mais conhecida no exterior, com ênfase para China, Rússia e Ucrânia, países onde a novela assinada por Gilberto Braga foi exibida mais de uma vez.