Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho honram o DNA em ‘Gostava Mais dos Pais’

Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho se apresentam em 'Gostava Mais dos Pais'

Após curta temporada no Teatro Porto Seguro, “Gostava Mais dos Pais”, peça com Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho, se despede daquele palco neste fim de semana.

A má notícia é que os ingressos até domingo, dia 14 de abril, já estão esgotados.

A boa, é que eles voltarão a São Paulo em breve, conforme antecipou Mazzeo em vídeo publicado nesta quinta-feira (11) em seu perfil no Instagram. E que a turnê do espetáculo está só começando, com calendário que prevê pouso no Rio de Janeiro em breve.

Com certeza, outras cidades logo serão anunciadas nessa turnê, que poderá viajar sem maiores complexidades. O cenário é coisa simples. O figurino, idem.

A riqueza da obra está todinha neles, donos de histórias que se iniciam com a amizade dos pais, décadas atrás, abarrotadas de um repertório inesgotável.

Em “Gostava Mais dos Pais”, a dupla mais que honra o DNA, e põe a plateia para rir das vantagens e desvantagens de serem filhos de quem são. Ao escolherem a mesma profissão dos pais, ícones de várias gerações, Bruno e Lucinho cresceram sob a mira de comparações cruéis e pouco racionais. É como se filho de gênio, no mínimo geninho tenha de ser. Daí porque tantos filhos de figuras brilhantes prefiram seguir outro caminho a encarar a pressão da comparação.

Sorte a nossa que Bruno e Lucinho não tomaram outro rumo na vida. Os dois estão plenamente à altura do legado dos pais, o que significa dizer que ficam muito acima da média hoje vigente na comédia nacional. É libertador poder rir com os dois em cena, ainda mais constatando como eles foram hábeis em rir dessa gente que lhes aponta o dedo para dizer: “Ah, gostava mais do pai dele”.

Em meio à herança de tanto talento, ambos abordam com sarcasmo e inteligência a desgraça da falta de repertório atual e de uma geração que já vai crescendo sem saber quem foi Alberto Roberto, Coalhada, Justo Veríssimo ou o marido da Ofélia. Há toda uma bolha hoje mais ocupada em formatar coreografias e hits para o TikTok ou outras redes, e “viralizar na internet”, para quem sabe ganhar dinheiro com “publi”. Tem que “balançar a raba”, como diz a canção criada pela dupla para o espetáculo.

Bruno e Lucinho trafegam por esse caminho sem cair na cilada de reduzir as novas gerações. Não resvalam no desprezo de quem porventura já não saiba quem foi Chico Anysio, por mais que gente como eu lamente profundamente esse esquecimento precoce acelerado por um mundo onde tudo parece efêmero. Mas não é que até isso eles transformam em piada?

E como também não basta aproveitar o DNA e deitar em berço explêndido, muito de todo o êxito se dá graças não só à competência de ambos, mas também de um texto que cria condições para que os dois brilhem e festejem o legado dos pais, e pela direção de Débora Lamm.

A modulação de vozes conspira a favor da narrativa, e em questão de segundos, vamos dos risos às lágrimas, como se Chico Anysio e Lúcio Mauro reencarnassem no palco.

Mais que uma peça, é um ato de amor.

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Cristina Padiglione

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